segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Internet - materialização do inconsciente coletivo

Já perceberam que materializaram o inconsciente coletivo?

É, isso mesmo. Além dos inúmeros sites com informações técnicas, os blogs e sites que viabilizam a comunicação entre as pessoas invadiram o espaço da internet, transformando em dados e em texto, legível, todo tipo de pensamento, sentimento, desejo e ação.

A internet tornou-se um banco de dados infinito de informações sobre as coisas, as pessoas, o mundo... E, claro, o acesso a este “inconsciente coletivo materializado” se tornou milhões de vezes mais fácil pelas ferramentas de busca, mais especificamente o Google.

É importante lembrarmos que muitas informações não podem ser encontradas na internet, na maioria dos casos, porque são muito antigas e nem a história oficial como ciência conseguiu resgatá-las. Para estes casos, ainda faz-se necessário desenvolver a intuição.

Mas é bastante interessante pensarmos em como a tecnologia proporciona aquilo que desejamos, muitas vezes sem que notemos.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Estudo sugere risco para a saúde em redes de transmissão de energia

  • Faço questão de reproduzir esta notícia - porque na região de Sousas - Campinas-SP temos condomínios sendo construídos muito próximos das redes de alta tensão e preocupa-me a saúde destas crianças e famílias. Buscamos mais segurança e espaço para as crianças brincarem, construindo casas em grandes condomínios fechados e, às vezes, não sabemos dos riscos a que estamos expostos. Aline
Por Júlio Bernardes - jubern@usp.br

Os campos eletromagnéticos são uma fonte de poluição ainda pouco estudada no Brasil. Na Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), uma pesquisa sugere que as crianças que moram a uma distância de até 200 metros das linhas de transmissão de eletricidade são mais propícias a desenvolver leucemia. O trabalho pretende estimular novas investigações sobre possíveis efeitos dos campos na saúde da população.

Proximidade de linhas de transmissão tem possível relação com incidência de leucemia infantil
Proximidade de linhas de transmissão tem possível relação com leucemia infantil

A tendência, apontada pela bióloga Ciliane Matilde Sollitto em sua tese de doutorado, foi verificada por meio de técnicas de geoprocessamento. “Foram considerados todos os casos notificados de leucemias entre crianças e adolescentes de 0 a 19 anos, do banco de dados do Registro de Câncer de Base Populacional do Município de São Paulo entre 1997 e 2004”, relata. “Dos 1709 casos, 693 registros foram georreferenciados, ou seja, tiveram sua localização fixada no mapa da cidade.”

Ao mesmo tempo, foram elaborados mapas registrando faixas de distâncias pré-estabelecidas ao longo das linhas de transmissão de energia elétrica no mapa da cidade de São Paulo, que serviram de base para a análise da influência dos campos eletromagnéticos em relação aos casos de leucemias. “Entre outros trabalhos, a análise se baseia em um estudo realizado no Reino Unido, com aproximadamente 6 mil casos registrados de leucemia infantil”, conta a pesquisadora. “Essa pesquisa revelou que havia uma tendência de maior incidência de leucemia entre crianças que residiam entre 200 e 600 metros das redes de transmissão de eletricidade.”

Os dados sobre as linhas e os casos georreferenciados de leucemia foram combinadas com a estatística populacional da cidade, obtida no censo do IBGE em 2000. O cruzamento das informações mostrou que nas áreas situadas a até 200 metros das redes de transmissão, a ocorrência de leucemia foi estimada em 22,46 casos por 100 mil habitantes, mais do que a incidência geral do município de São Paulo, que é de 19,34 casos em cada 100 mil moradores.

Exposição
A pesquisadora defende que novos estudos epidemiológicos sejam realizados sobre poluição eletromagnética. “É preciso investigar mais a fundo a exposição das pessoas a esse tipo de poluente, mais uma dentre as várias formas de poluição existentes na cidade”, ressalta. Ciliane também recomenda o aprimoramento dos registros de morbidade na cidade de São Paulo. “Como a leucemia infantil é passível de cura em cerca de 85% dos casos, é necessário obter dados precisos sobre sua incidência, e não apenas o número de mortes”, ressalta.

Os prováveis impactos das radiações não-ionizantes na saúde humana, especialmente entre crianças, são objeto de estudos internacionais aprofundados desde 1979, desde que a Agência Internacional do Câncer considera que os campos eletromagnéticos são possivelmente carcinogênicos.

A bióloga, funcionária da Prefeitura de São Paulo, começou a pesquisar a questão da poluição eletromagnética a partir de 2000, para atender as demandas de moradores de City Boaçava (Zona Oeste da capital), que questionavam sobre os possíveis efeitos do aumento da tensão nas linhas de transmissão pretendida pela concessionária de energia. Na dissertação de Mestrado, apresentada em 2006, Ciliane trabalhou com plantas indicadoras de poluição, orientada pelo professor Paulo Saldiva, do Laboratório de Poluição Atmosférica da FMUSP.

“Esse trabalho demonstrou que as plantas também apresentavam sensibilidade aos campos eletromagnéticos, do mesmo modo que acontece com a poluição atmosférica, podendo servir também como bioindicadores”, lembra a pesquisadora. A pesquisa para a tese de doutorado, defendida em abril deste ano, teve orientação do professor Luiz Alberto Amador Pereira.

Mais informações: nilcili@uol.com.br


segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Consciência e aprendizagem


A palavra consciência pode significar "com ciência", ou seja, "com conhecimento", "estar ciente de".

No meu entender, temos consciência por meio da relação entre nossas percepções, nossos sentidos, que recebem estímulos com significado diante da série de informações que já temos armazenadas - por memória - e às quais estas informações novas selecionadas associam-se. As nossas percepções se delimitam por nossas experiências anteriores, nossa genética, nossas crenças, regras, princípios, valores, que norteiam nosso comportamento, nossos hábitos, nossa opinião e escolhas diárias.

E, além disso, em condições normais de saúde física e mental, temos consciência de que somos conscientes ou inconscientes em relação a questões e momentos específicos.

Os estudos da consciência, pelas mais diversas correntes da medicina e psicologia, entre outras ciências, certas vezes promovem mais dúvidas do que esclarecimentos para nós leigos, mas é sempre prazeroso tomar conhecimento de uma nova descoberta da neurologia.

Veja matéria abaixo publicada pela FAPESP.

Divulgação Científica

Sinais conscientes

Agência FAPESP – Um estudo feito por um grupo de cientistas da Argentina e do Reino Unido indicou que algumas pessoas em estado vegetativo ou de consciência mínima são capazes de aprender e, portanto, de demonstrar pelo menos uma consciência parcial.

A primeira comprovação do gênero, que abre novo caminho para futuras terapias de reabilitação, está em artigo publicado neste domingo (20/9) no site da revistaNature Neuroscience.

Ao estabelecer que tais pacientes são capazes de aprender, os autores do estudo apontam que o método que utilizaram poderá ser usado para verificar o estado de consciência sem precisar recorrer a métodos de obtenção de imagens, como tomografias computadorizadas.

A pesquisa foi feita por cientistas da Universidade de Buenos Aires e do Instituto de Neurologia Cognitiva, na Argentina, e da Universidade de Cambridge, no Reino Unido.

Com uso do método clássico de condicionamento pavloviano, os pesquisadores emitiam um tom sonoro e imediatamente ativavam um aparelho que soprava ar nos olhos dos pacientes. Depois de um período de treinamento, os pacientes começaram a piscar assim que o tom era emitido, mas antes de o ar chegar a seus olhos.

Os autores destacam que esse processo de aprendizagem exige consciência da relação entre estímulos – o tom precede e prevê o ar no olho. O mesmo tipo de aprendizagem não foi verificado em exames dos pacientes do grupo controle, composto por voluntários anestesiados.

Os pesquisadores apontam que o fato de os pacientes serem capazes de aprender associações indica que eles podem formar memórias e eventualmente se beneficiar da reabilitação.

“Esperamos que esse método se torne uma ferramenta útil e simples para o teste de consciência sem a necessidade de exames de imagens. Além disso, nossa pesquisa sugere que, se o paciente mostra capacidade de aprender, ele poderá atingir algum tipo de recuperação”, disse Tristan Bekinschtein, da Universidade de Cambridge, primeiro autor do estudo.

O artigo Classical conditioning in the vegetative and minimally conscious state, de Tristan Bekinschtein e outros, pode ser lido por assinantes da Nature Neuroscience em www.nature.com/neuro.

Fonte: http://www.agencia.fapesp.br/materia/11096/sinais-conscientes.htm

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Por uma definição de "amar"


Sempre que algo me incomoda, uma sensação de irritação, desconfiança, medo, raiva, toma conta de mim, no instante seguinte, o pensamento: ‘como seria enfrentar esta situação com amor?’

E o que é o amor? É certo que é um conceito convencionado, mas existe algo que se desperta em nossa mente e nossas emoções quando dizemos ou pensamos nesta palavra. Provavelmente, acessamos todos os pensamentos e sentimentos relacionados a este conceito, guardados no inconsciente coletivo; todos os momentos em que a palavra foi pronunciada com a intenção que ela carrega.

Mas, finalmente, se tivéssemos que definir, usaríamos símbolos, imagens, outras palavras, que ao longo dos séculos foram e são associadas ao ‘amor’ ou ao ‘amar’. No entanto, ocorre algo em nossas sensações, uma mudança que identifiquei todas as vezes que, no instante seguinte a um de medo, de irritação ou desconfiança, vivencie, pensei, ou mesmo pronunciei a palavra ‘amor’.

Ela veio, todas as vezes associada a respeito, a admiração, a reverência, a compreensão, a gratidão, a desapego. Mas, recentemente, estive pensando sobre a palavra, motivada por outras questões – e não por sensações – e percebi que, mais do que tudo, amar é compreender, é um sinônimo até de ‘saber’, ‘sabedoria’. Porque eu sinto que o sentimento de amor que se desperta em mim ocorre não quando desejo muito alguém, ou estar com uma pessoa, ou vivencio momentos de paixão, nem mesmo quando acaricio um familiar muito querido.

Ele se desperta quando ‘sei’ a posição das coisas e das pessoas, o lugar que elas ocupam na minha vida, sei a posição que eu ocupo e porque as relações se dão de uma maneira ou de outra. Eu simplesmente sei que é assim que deve ser. Compreendo o porquê a irritação me toma, o porquê das reações adversas das outras pessoas. Compreendo que, seja o estágio evolutivo que for em que estivermos, seja qual for nosso grau de autoconhecimento e sabedoria, todos temos boas intenções quando tomamos uma atitude, pareça ela boa ou má, no mínimo fazemos por instinto de sobrevivência de nós mesmos ou da espécie.

Então, vejo que quando sabemos, brota um sentimento de paz, e de que todos estão executando seus papéis como deveria ser, de que os sistemas em que estamos inseridos exercem um poder sobre nós e, muitas vezes, nos forçam a fazer coisas, a executar tarefas, a vestir roupas, a consumir, entre outras atividades; porque é neste ambiente, neste espaço e neste tempo que fomos designados a viver. Podemos buscar alternativas, podemos tentar nos isolar, fugir desta trama social em que nascemos, mas a verdadeira evolução se dá nela. Não me convenço de que é algo admirável o homem mais feliz do mundo estar num monastério. Até porque o conceito moderno de ‘felicidade’ é bastante Holliwoodyano. Respeito a escolha dos monges, mas é a diversidade de coisas e pessoas, e o turbilhão de vidas que se misturam em pensamentos, sentimentos, necessidades, desejos, sensações, ações e atitudes, que tornam mais intenso e venerável o processo de evolução e de autoconhecimento.

Por fim, concluo que amar é um sentimento de sabedoria suprema. É algo que lhe dá imensa gratidão de estar onde está, de ser quem é... e de que as pessoas que estão a seu lado estejam lá, que as que não estão, estejam vivendo suas vidas como deve ser, e entender a grandiosidade do mundo, da vida e a interdependência entre os seres e coisas, que faz do universo uma série de partículas, que se movem sem parar, num processo infinito de transformação, fora e dentro de nós, e que tecem aquilo que chamamos ‘realidade’.

domingo, 13 de setembro de 2009

A máquina


A máquina trabalhava todos os dias da semana, expediente de mais de 8 horas diárias, número não contabilizado na CLT. Mas, afinal, era só uma máquina. Embora, no fim das contas, parecesse mais um confessionário em que o crédulo “lava seus pecados”.

Bom, mas este não é o início da história. Tudo começa numa neurose. E o que começa em neurose nunca termina, por isso, esta história a exemplo do livro de Michael Ende, é uma história sem fim.

Mas, esta neorose também não pode existir sem o neorótico, então vamos lá.

O Sr. Avelino acordava, todos os dias, às 6h em ponto, nem um minuto a mais nem a menos. Este era o horário que seu despertador costumava tocas durante 30 anos de sua vida, período em que trabalhava pela manhã.

Embora seu expediente só começasse às 13h, de uns 10 anos para cá, ele continuou com um despertador biológico que não o deixava passar das 6h ainda que tomasse o remédio para dormir.

Então, diariamente, pulava da cama como gato posto pra correr e, depois da primeira parada no banheiro, p fogão e a máquina estavam a sua espera.

Água posta pra ferver, seguia até a lavanderia. Tão logo chegava, já iniciava a programação da máquina: roupa do cesto no tambor e aquele som de água enchendo, tranqüilizava-o e a deixava trabalhar.

A família toda dormindo por pelo menos mais uma hora e ele pronto para ir aonde quer que fosse necessário, ou claro, ficar ao lado da máquina só observando e sentindo sua vibração enquanto o sabão e a água se misturavam aos tecidos, provocando uma catarse de limpeza em nosso espectador.

E a máquina era sempre assunto, ainda que se falasse de grampos de cabelo, de dinheiro (mais especificamente moedas), de pêlos, ou da empregada.

Máquina era até motivo de nostalgia ou de discussões daquelas triviais entre família. E o sr. Avelino não entendia de roupa, de tipos de tecido ou de moda. Ele só sabia que todas as vezes que uma blusa preta ficava cheia de bolinhas brancas ou encolhia era culpa de sua esposa ou da empregada.

Aquele era um objeto sagrado capaz de afastar as pessoas em momentos oportunos, de lavar tudo o que se dizia ou fazia e que provocasse arrependimento ou mesmo apenas para fazer barulho o suficiente que não permitiria ouvir seus próprios pensamentos e fazer esquecer o que pudesse ter causado dor ou mal estar a alguém.

Fazia chuva ou sol, frio ou calor, dia ou noite, carnaval ou finados, e ela não parava. Bem, isso até surgir um barulho novo. E, sr. Avelino sabia identificar todo novo barulho tanto era o tempo que ficava a seu lado. Preferia lavar roupa e comer pão com carne amanhecida a pagar jantar para a família. Preferia abrir inúmeras vezes a tampa da máquina para inspecionar seu funcionamento a saber o que fazia seu coração bater mais forte e mais feliz.

Mas, não sejamos cruéis, talvez fosse a certeza de que tudo poderia ser limpo que lhe dava forças e alegria para seguir adiante. Talvez aquela vibração fizesse seu coração bater com mais intensidade.

A tecnologia não o surpreendia de fato. Sal avaliação minuciosa do funcionamento das coisas o fazia entusiasmado com uma combinação simples de pilhas e arame ou... água e sabão.

Então, um dia, a máquina começou a emitir um barulho estranho. E, embora sr. Avelino já houvesse executado muitos ruídos da máquina, este era assuntador, agudo como a trilha sonora de Psicose, de Hitchcock.

Chacoalhou de todas as formas. Passou semanas testando tecidos, volume de água, de roupas etc. Queria evitar ao máximo pagar um técnico: “Com certeza é algo simples e vão me cobrar o olho da cara”, dizia à mulher, com ares de papai da família urso – da Turma do Pica-Pau.

Continuou os testes, até que um dia, cansado de experimentar e continuar ouvindo o choro de sua companheira, chamou um profissional especializado e descobriu que o barulho nada mais era do que um suporte para evitar que gatos se alojem em seu interior. Foi uma descoberta totalmente inusitada e sr. Avelino contou esta história por anos a fio, a todos aqueles com quem conversava... no banco, na praça, no médico, no elevador, na rua...

(Aline Daher)

Foto: http://www.maurolemes.com.br/image014.gif

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

A simplicidade complexa

Dia após dia, nos deparamos com notícias de catástrofes naturais, milhões de mortes por doenças, assassinatos etc. O volume e a periodicidade destas notícias e, em alguns casos, a forma como são veiculadas - diga-se de passagem, em alguns casos, sem o mínimo de ética - nos tornam, como muitos estudiosos já afirmaram (bem melhor do que eu), passivos, hipnotizados, como se tudo acontecesse naturalmente.

Bem, tenho que concordar que causa certa indignação a passividade em que as pessoas se encontram. Mas confesso que a minha indignação maior não é quanto à passividade dessas pessoas em relação ao que se passa no mundo, mas em relação ao que se passa consigo mesmas.

Nossa mente racional tem por hábito fazer comparações entre situações diferentes e estabelecer uma hierarquia de qual é melhor e qual é pior. Pode ser que alguns tenham razão em dizer que antigamente era muito melhor, porque as pessoas podiam ser escravas, mas elas tinham o que comer. Bom, eu não pretendo chegar a uma conclusão sobre esta hipótese, mas o que posso dizer é que, em toda história do HOMEM, tanto a compaixão quanto a crueldade conviveram, as catástrofes naturais sempre existiram. O que mudou é que na modernidade, nossa mente é invadida a todo instante com imagens e informações sobre os atos de homens das mais diversas etnias e de catástrofes das mais diversas.

As imagens da TV e do cinema, principalmente, criaram um mundo imensamente maior na cabeça do homem moderno do que o era para o homem feudal, antigo, ou pré-histórico. Este processo é interessante porque nos forçou a uma ampliação da consciência, ainda que muitas vezes ela seja mais degradadora do que o contrário.

Costumo pensar que uma verdadeira ampliação da consciência seria ver todas estas notícias, que se tornam habituais, corriqueiras, ordinárias, e compreender que, a crueldade, a compaixão, o amor, a dor, o sofrimento, a morte, a alegria e a celebração sempre fizeram parte da sociedade humana e de seu relacionamento com a Natureza; que embora desejássemos que todos tivessem responsabilidade sobre seus atos e pudessem tratar o mundo e o outro com respeito e amor, não temos controle sobre o comportamento do outro e, portanto, idealismos apenas criam oportunidade para frustrações.

Diante desta realidade complexa, que a mídia intensificou em nossa mente, a saída é olharmos para nós, nossa saúde física, mental, emocional. Indignar-se com as notícias não é verdadeiramente o que fará a diferença, o importante é saber o que cada um de nós vai fazer com estas imagens e informações que invadem nosso dia a dia, por vezes nos consolando, por outras nos agredindo.

Descobrir o que nos move, o que provoca amor ou dor e o que isso faz com nossas vidas, nossa saúde e com aqueles com quem nos relacionamos, é o melhor desafio diário que alguém pode ter.

Eu, sinceramente, muitas vezes, prefiro não saber de algumas notícias, embora jornalista.
Sei que, em alguns casos, não terei controle sobre o que aquela imagem ou informação vai provocar no meu emocional, então simplesmente prefiro não saber. Nossa sociedade valoriza demais aqueles que acumulam toneladas de informações superficiais sobre tudo, mas isso criou muitos homens dispersos, ansiosos, descontrolados emocionalmente, confusos mentalmente, agressivos, egoístas etc. É importante lembrar que toda a agressividade que se apresenta existe de forma latente em todos nós, o que precisamos é, sabendo disso, escolher o que faremos a seguir.

A mídia nos educa a todo momento, consciente ou inconscientemente, mas as instituições que produzem seu conteúdo nem sempre têm compromisso com esta função 'educativa' e, assim, nós temos que assumir este papel, sermos capazes de discernir entre o que é essencial para sermos pessoas melhores e o que nos torna doentes - física, mental ou emocionalmente. Esta é a simplicidade complexa: estar presente, consciente em cada escolha que fazemos, escolher cada imagem e informação a que teremos acesso, diariamente, para que, no longo prazo, o efeito cumulativo seja positivo para nossa qualidade de vida e daqueles que nos cercam.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

O que dissemina ou contamina mais rápido?

A dúvida que me coloquei hoje depois de receber inúmeros e-mails sobre a gripe suína foi:

O que dissemina mais rápido? O vírus da H1N1 nova ou os e-mails de Forward que tratam de seus mais infinitos males e fatalidades?

E não cheguei a uma resposta numérica ou lógica, mas a uma nova pergunta: o que mata mais? Vírus de gripe ou informação transmitida sem responsabilidade e compromisso?

A nossa mente é muito mais poderosa do que muitos acreditam que ela seja. E ela funciona por meio de associações de imagens, emoções, modelos de comportamento, conceitos, informações, dados. Para a maioria da população mundial, a emoção domina a razão, no sentido de que a paixão e o medo direcionam suas ações muito mais do que a lógica racional - da compreensão da conexão que existe entre as coisas, pessoas, espaço e tempo...

Este domínio da paixão e do medo são os responsáveis para que as pessoas disseminem uma informação, seja de onde for, porque ela revela uma ameaça á sobrevivência da espécie. Novamente, esquecemos que vivemos numa ecologia e que a raça humana não está fora dos ciclos de vida e morte. Construímos nossas vidas sob parâmetros chamados civilizados, mas há muitos que cultuam a verdadeira barbárie justificada por argumentos fortemente embasados em normas e regras desta sociedade. É um ciclo sem fim.

É importante dizer que existem pesquisas em países, principalmente da Europa, que revelaram a influência de notícias publicadas nos jornais sobre suicídio no aumento deste tipo de morte.

Precisamos nos cuidar? Nos proteger? Garantir a sobrevivência da espécie? Sim. Mas além de nos proteger dos vírus e bactérias e outros seres que podem ameaçar nossas vidas, temos que nos proteger de informação descompromissada com a saúde física e mental do homem, de informação desnecessária ou que apenas faça crescer o medo, o isolamento e, até mesmo, a crença de que estamos doentes, e a visão catastrófica do apocalipse.

Às vezes, tenho a impressão de que para alguns esta visão é reconfortante, porque se tudo acaba ao mesmo tempo, não há nada a se perder. Quanto egoísmo! Se pensássemos que não somos donos de nada, também não precisaríamos viver com medo de perder.

A imagem aterradora que estas informações criam na mente das pessoas é suficiente para alguns ficarem como 'Raul' - "com a boca escancarada, cheia de dentes, esperando a morte chegar".

As informações não podem ser aceitas sem um contexto, sem uma fonte de confiança, sem comparações, sem meios que nos permitam fazer associações e compreendê-la de verdade. De que adianta a alguém receber a informação de que pode ficar doente ou de que pode morrer - isso todo mundo sabe. Informação importante é aquela que nos permite tomar alguma atitude, uma atitude positiva e não destrutiva.

Mas a verdade é que: o que se pode esperar de cidadãos comuns/usuários de e-mails pessoais, se empresas e profissionais da comunicação muitas vezes não são sensatos o suficiente para saber quais informação transmitir e quais não.

O que me consola é o fato de que momentos de crise e fragilidade são oportunidades sem igual para refletirmos e reestruturarmos nossa vida, nossos objetivos, nossa missão...tudo. E sempre existem alternativas. Cabe a nós escolher se vamos nos deixar contaminar.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Floresta agora exerce a função de preservar

Nesta onda de sustentabilidade, tem empresa querendo tirar vantagem de qualquer jeito.

Estes dias, na Marginal Tietê me surpreendeu os dizeres num caminhão ao lado:

Transportadora Floresta

e logo abaixo o slogan: 'Preservando sua carga'.

Nada contra a empresa, até porque não conheço seu trabalho, ela pode mesmo ser top em sustentabilidade.

Mas o que me surpreendeu foi a inversão de sentidos. Quero dizer, seria como dizer que a floresta pressupõe preservação. Seria como dizer: "Nossa... que planta ecológica".

Ou, seria como dizer que a floresta, por ser verde, representar o meio ambiente - que, hoje, está intensamente vinculado ao termo 'preservação' - tivesse a competência, a habilidade, a função de PRESERVAR.

No mínimo inacreditável, no máximo hilário.

Consumir, beber e fumar

Tem algo em comum nestes três verbos: os três são objetos de leis que os restrigem.

São os famosos 'consumação mínima', 'se beber não dirija' e 'fume só em espaços privados'.

É, talvez a legislação não diga exatamente isto, mas seja lá o que diga ou mesmo a publicidade sobre ela, em que se investiu pesadamente, a verdade é que ainda existem os bares com consumação mínima, os estabelecimentos continuam lucrando com venda de cerveja e destilados a 'motoristas' e, agora, a dúvida é por quanto tempo a atmosfera dos espaços públicos vai ser ecologicamente correta.

Eu confesso que não bebo, nem fumo e, por esta razão, cosnumação mínima para mim muitas vezes é a máxima. E confesso também que para mim seria o melhor dos mundos se não existissem cigarros na face da Terra. Mas eu não sou assim tão idealista.

Na sociedade em vivemos, infelizmente as leis passam a ser necessárias, já que a educação (e mesmo os modelos) para um cuidado consigo e sua saúde, e o respeito com o outro é muito deficiente. Mas o que me indigna é justamente toda esta verba em publicidade não ser usada para programas de educação paralelos à 'proibição'. Hummm mas isso dá trabalho, é difícil. Sim, tudo o que é bem feito dá trabalho - já dizia uma prima psicóloga.

Mas sabemos que existem uma série de fatores, de interesses envolvidos... afinal, num país de muitos desempregados, não só o trabalhador precisa assegurar seu cargo, mas também o deputado, o senador, o ministro, o secretário, o presidente... E manter alguns cargos exige manter uma estrutura que lhes garanta importância. Porque o dia em que cada um puder viver num processo contínuo de aprendizagem e autoconhecimento, será revelada a obsolência de muitos.

Gripe suína potencializa ensino à distância

O ensino à distância tem sido o foco de políticas públicas em educação, objeto de pesquisas e até motivo para greve - como a última dos estudantes de universidades estaduais. Mas a verdade é que com adversários ou não, na saúde ou na doença, a tendência é que esta forma de 'ensinar' só cresça.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Novo RAP DaherBaptista


Eu sou o Daenam, sobrinho-neto da tia Ana, mãe da Aline, tenho 6 anos e eu vou apresentar minha primeira composição: o rithym and poetry do Wefer, vulgo (RAP do Wefer).


"Mamãe, sabe o que me aconteceu,

O Wefer me bateu,

Ai, Ai, Ai EU!"


Divulguem este grande sucesso!

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Lançamento da XIII Coletânea Komedi

Para muitos a poesia é só um texto que os outros compõem. Para os poetas, para os de sensibilidade exacerbada, ela é o fio condutor que liga tudo na vida. E pode ser feita em versos, em prosa, em fatos, em ações...

Convido vocês para um evento em que se reunem poetas e convidados, no afã de envolver a todos com esta brisa tênue e eterna que é a poesia.

XIII Coletânea Komedi
Data: 25 de julho de 2009, sábado

Horário: 16:00
Local: Educandário Eurípedes
Av. Theodureto de Almeida Camargo, 750 - Vila Nova
Campinas - SP

segunda-feira, 1 de junho de 2009

A literatura, o mito, a essência da vida humana

Tive que reproduzir este trecho de O poder do mito, de Joseph Campbell - uma entrevista. Fiquei emocionada com a descrição sobre o livro do Mann, talvez porque me identifiquei muito com o que o personagem viveu, porque admiro aquele que foi para longe e conseguiu dar a totais desconhecidos mais do que àqueles que são sua gênese, sua história, sua memória... mas tb não os invejo.

MOYERS: Quer dizer que contamos histórias para tentar entrar em acordo com o mundo,
para harmonizar nossas vidas com a realidade?
CAMPBELL: Penso que sim. Romances – grandes romances – podem ser
excepcionalmente instrutivos. Nos meus vinte e nos meus trinta, até nos meus quarenta
anos, James Joyce e Thomas Mann eram meus professores. Eu lia tudo o que eles
escreveram. Ambos escreveram em termos do que se poderia chamar de tradição
mitológica. Tome, por e xemplo, a história de Tonio, no Tonio Kröger, de Thomas Mann. O pai de Tonio era um sólido homem de negócios, um cidadão de relevo em sua cidade natal. O pequeno Tonio, porém, tinha um temperamento artístico, por isso mudou se para Munique e reuniu se a um grupo de literatos, que se sentiam superiores aos meros ganhadores de dinheiro e aos homens de família.
Assim, eis aí Tonio dividido entre dois pólos: seu pai, que era um bom pai, responsável e tudo o mais, mas que nunca tinha feito o que queria, em toda a sua vida; e, por outro lado, aquele que deixa sua cidade natal e assume uma atitude crítica em relação à vida que se levava lá. Mas Tonio descobriu que de fato amava a gente de sua cidadezinha. E embora se julgasse um pouco superior a eles, em termos intelectuais, e pudesse falar deles com
palavras cortantes, seu coração, apesar de tudo, estava com eles.
Mas quando partiu, para viver com os boêmios, descobriu que estes tinham tal desdém pela vida que tampouco poderia viver com eles. Por isso deixou os e e screveu uma carta a um do grupo, dizendo: “Admiro aqueles seres frios e orgulhosos que se arriscam nos caminhos da beleza elevada e diabólica e menosprezam a ‘humanidade’; mas não os invejo. Pois se alguma coisa é capaz de fazer de um literato um poeta, essa coisa é o amor de minha cidade natal pelo humano, aquilo que existe e é comum. Todo calor deriva desse amor, toda doçura e todo humor. De fato, quanto a mim, creio mesmo que esse amor deve ser aquele sobre o qual está escrito que se pode ‘falar com a língua dos homens e dos anjos’, que no entanto soa, quando o amor falta, ‘como metal ruidoso ou címbalo tilintante’”. Em seguida, ele diz que “o escritor deve ser verdadeiro para com a verdade”. E ele é um assassino, porque a única maneira de você descrever verdadeiramente um ser humano é através de suas imperfeições. O ser humano perfeito é desinteressante – o Buda que abandona o mundo, você sabe. As imperfeições da vida é que são apreciáveis. E, quando lança o dardo de sua palavra verdadeira, o escritor fere. Mas o faz com amor. É o que Mann chamava “ironia erótica”, o amor por aquilo que você está matando com sua palavra cruel, analítica.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Vagas para jornalistas

A RedeTV! está selecionando 30 pesssoas, formadas, para comporem uma equipe de jornalismo investigativo.

Os interessados devem escrever para: Juliana Evangelista jevangelista@redetv.com.br assunto: webreporter-indicação tognolli.

Boa sorte!

sábado, 9 de maio de 2009

A ausência que move o homem

Somos educados e reeducados, diariamente, para sermos regidos pela ausência de nós mesmos. Isso significa que, principalmente no Brasil, e creio em outros países em desenvolvimento ou que passaram por processos de colonização, a heteronomia reina sobre a autonomia.

Somos regidos por normas que não entendemos, não nos compromissamos com a nossa existência ou a do outro e ficamos esperando sermos repreendidos ou punidos, para serguirmos a lei, ou recompensados, para saber quando continar nos comportando da mesma maneira.

Nos ausentamos de nós mesmos, para evitarmos a culpa. Delegamos a terceiros o poder sobre nossas vidas... nossas decisões

Esperamos que uma mão nos empurre e nos faça seguir, como uma massa amorfa, que nunca se define, porque não se conhece e acredita que é aquilo no que a mão lhe transformou.

P.S. O texto está em primeira pessoa do plural, mas depende de cada um deste 'nós' de que falo tomar consciência e descobrir que ingrediente desta massa é.

A essência é maior que a aparência?

VEJAM O VÍDEO: http://www.youtube.com/watch?v=9neKhjyHWgc

Vivia num mundo
Em que o corpo era imundo

Maltratou o corpo
Ou dele se olvidou
Exaltou o morto
De quem a alma se livrou

Encontrou, na morte, a vida
E fez da doutrina exibida
Uma razão atrevida

Torturou a aparência
E na sua inocência
Perdeu a essência

Apegou-se ao eterno
E a sete paus abaixo
Eternizou-se num terno

Perdeu a vida
E a ela voltou, decidida
A encontrar a correta medida
_________________________________________

‘A imagem ou a aparência é uma oportunidade infinita de significados; aceitam a ideologia de quem quer que as “leia” para dar-lhe um sentido ou uma essência.’

‘A doutrina cristã louva o espírito (a essência), em detrimento do corpo (a aparência):
Espírito (matéria etérica, sublime) = sagrado
Corpo (matéria física)= pecado

domingo, 3 de maio de 2009

A flor na pele


Caminhava sobre o cimento cinza, avistando o sol tocar quente o extenso gramado morro abaixo. E, então, uma vontade súbita de me atirar ali me acometeu, como tantas outras vezes. Mas, naquele dia, foi diferente: eu me rendi ao meu desejo de maneira tão espontânea, e satisfatória.

Rompi o limite entre cinza e verde e a sola do calçado tocou a grama. Era comum encontrar amigos ao sol naquele espaço, mas não amigos meus, conhecidos entre si, que provavelmente louvavam ao Sol, como eu, sem mitos ou simbologias, mas simplesmente por sua natureza iluminada e quente.

Sentei-me, recostada a uma árvore. Pensei em ler o livro que carregava – Macunaíma –mas não me animou lembrar da história. Não combinava com aquele momento. Então, fechei os olhos e fiz um esforço para lembrar das notas de uma música de Bach que sempre me pacifica a alma: Air on the G String.

E foi como se os raios de sol me tocassem como cada nota estridente e longa do violino. Em minha mente, cores iam surgindo, provocadas talvez pela música, talvez pelo efeito da luz do sol nos meus olhos, ainda que fechados.

De repente, senti um calor que não vinha de cima, mas do meu lado esquerdo. Relutei em abrir os olhos, embora o movimento da cabeça tenha sido involuntário, dado o senso de proteção.

Então, ainda sem abrir os olhos, comecei a sentir um perfume acre e cítrico ao mesmo tempo, que combinava com a música em minha mente, a qual agora tocava como se viesse de fora de mim.

Curiosa, apesar do prazer das circunstâncias, abri os olhos e um pequeno cãozinho havia sentado ao meu lado e, como eu, fechara os olhos para sentir ainda melhor o prazer do calor penetrando firmemente seu pêlo, sua derme, sua carne...

Voltei a fechar os olhos, sentindo ainda o leve sorriso no rosto.

Meu corpo já parecia acompanhar as nuances da música, fazendo com que uma leve brisa se formasse tocando as maçãs do rosto com uma delicadeza incrível. No clímax da música, algo macio caiu sobre minha face e, então abri os olhos, com a cabeça voltada para o alto.

Uma chuva de pétalas numa sinfonia de cores começava, cobrindo tudo e acariciando a pele quente e dourada. Com o prazer deste toque, fechei novamente os olhos e, desta vez, adormeci.

Quando acordei, minhas raízes haviam se formado novamente, voltei a procurar um novo chão para pisar, uma nova sensação de prazer, uma nova inspiração...

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Ideias ao vento, sem acento

Hoje, a aula de Didática falava sobre os âmbitos da avaliação, do porquê de sua existência e de como ela determina a relação professor-aluno e aluno-aluno em sala de aula.

A crítica feroz é de que o professor não sabe lidar com o tipo de escola em que está inserido, ou melhor, com as fenomenais diferenças socioeconômicas e de valores dos alunos, sem usar isso como instrumento para sua ridicularização (do aluno).

E penso que, como os terapeutas devem fazer terapia pelo resto da vida, os professores deveriam ter aulas para o resto da vida, mas não necessariamente pedagogia ou da disciplina que ministram, e sim sobre temas e atividades diversas.... Em verdade, talvez este seja um início para mudar o ambiente dentro da escola, onde o confinamento e a verticalidade do poder vai totalmente contra o sentido de aprender, de adquirir conhecimento sobre si e sobre o mundo, a fim de ter autonomia, criatividade, controle emocional e evitar assim grande parte das doenças do nosso tempo.

Mas, ao contrário do que muitos podem dizer ou pensar, esta escola educa...toda escola educa, talvez não visando o resultado do aprendizado daquilo que lhe dará a capacidade de se conhecer e de encontrar seu lugar no mundo, mas, como a maioria hoje, o aprendizado de um comportamento passivo e alienado, de que as aparências valem mais do que a essência - como se fosse possível separar uma coisa da outra -, de que a técnica é apenas a execução de procedimentos com objetivo de lucro e não arte, que o fazer é mais importante do que pensar, e que o pensar é mais importante do que o sentir, e de quem faz e sente está num nível social inferior àquele que pensa, que o consumidor é o que faz do indivíduo um cidadão de valor na sociedade em que vivemos hoje, e que os objetos que nos rodeiam valem mais do que as pessoas que os utilizam ou que estão por trás deles. Aprendizado de valores que são fundamentos da sociedade em que estamos.

É...tudo isso. Pensar, fazer, sentir...tudo ocorre ao mesmo tempo. Aparência e essência estão intrinsecamente ligadas, não há dissociação de forma e conteúdo, não há separação de sujeito e objeto. O objeto não o "é" se não servir aos propósitos humanos. Um sujeito deu o nome de 'objeto' a ele e, por isso, ele é também este sujeito, inclusive a forma de pensar dele no momento em que o nomeou.

E para dizer o que digo visto os muitos discursos que ouvi e concordei e talvez exista alguma ideia só minha, na verdade acho que a ideia só minha está na forma disso que escrevi, então a forma que é conteúdo se revela aqui - uma estética talvez única, talvez não, recheada de uma ideologia...

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Noite de cão - vírgula - noite de água e alarmes

Já tive noites de cão, literalmente, em que um cachorro passou a madrugada uivando sem parar... de dar pena... outras em que os cachorros de rua ou de linha de trem latiram a noite toda, provavelmente na disputa pela fêmea do bando...

Mas esta noite foi, pra não dizer com outras palavras, 'diferente'.

Acordamos com o barulho do interfone. Olhei no celular e, então, pensei: - Quem é o energumino (nem sei se é assim que escreve) que veio nos visitar às 3h da madrugada?

Então, sem resposta, rolo mais um pouco na cama e resolvo levantar pra saber o que é: o fundo da caixa d'água estourou.... Cachoeira de água potável na escada de incêndio - que ironia e que pecado.

Quando o assunto se resolve de maneira razoável, volto pra cama... Mas depois de acordar, fica impossível ignorar o alarme contínuo de uma casa vizinha.... Tuim tuim tuim tuim tuim tuim tuim tuim....Sei, vocês já entenderam...eu também tinha entendido e mesmo assim ninguém desligou o alarme até às 13h da tarde do dia seguinte. Dá pra imaginar: Que noooooite!

E a 'bela da tarde' saiu com os olhos inchados, as têmporas contraídas... o passo lento....

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Pensamento do dia

Entregar-se

Não se faz por orgulho – medo de perder o controle, de ser dominado pela paixão.
Não se faz por vaidade – medo de ter de refazer toda a imagem, estruturada e reforçada ao longo de anos.
Faz-se por desprendimento – certeza de que nada é melhor do que a experiência de realizar o que se deseja no momento em que o desejo acontece.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Foi um mega mini flash back


Semana sortida de encontros e reencontros
Amizades

Carinho

Saudade

Nostalgia.


Poesia...


Sol e chuva

Vento e mormaço

Flores nas árvores

Folhas ao chão



e até pancadão...


Da massinha de modelar

Fui pro quebra-cabeça

História para ninar

E piada pitoresca


"Coelhinho da páscoa, o que você traz?

Um ovo pra menina que sabe cantar...

Um ovo pra menina que sabe dançar..."

segunda-feira, 30 de março de 2009

Emprego X Trabalho

Um discurso recorrente diz: O trabalho dignifica o homem.

E é verdade. Eu acredito nisso. Mas não o trabalho como emprego, porque o emprego´é uma instituição criada pelo capitalismo em que independente de haver trabalho - ou seja transformação de energia, geração de energia - o indivíduo, vulgo consumidor, recebe um salário com o qual adquirirá produtos.

Com a crise, vemos uma discussão incrível acerca do número de demissões, de desempregados, pessoas que são, nesta condição, humilhadas pelo próprio sistema, porque perderam sua 'dignidade', não têm mais poder, poder de consumo.

E é aí que vemos a confusão trabalho, emprego, consumidor, cidadão.

Como pode ser cidadão, quero dizer argumentar política, sociológica e filosoficamente acerca de sua condição e do contexto em que está inserido, um indivíduo que foi educado basicamente para ser consumidor e, portanto, ter um emprego e um salário com este propósito?

Como pode ser capaz de ter uma postura ativa diante de sua própria vida, alguém de aprendeu que obedecer é o mais importante para manter este tão glorioso emprego, que 'coloca o pão em sua mesa'?

Delegou-se a tantos outros o poder de fazer as coisas, que o indivíduo ficou sem função, a não ser obedecer ordens. Falo de um grande número de pessoas, não todas, é claro.

Se estes indivíduos fossem cidadãos, estariam prontos a questionar aquilo que lhes é mais próximo, seriam capazes de estar desempregados sem se sentir humilhados; poderiam criar meios de trabalhar, de produzir, de trocar bens, sem que fosse necessário depender deste sistema emprego, salário, consumo, e sem apelar para os meios degradantes, como o tráfico, jogos, pirataria entre outros atos que são causadores da destruição de tantas vidas.

Muitos perderam a dignidade, porque não trabalham mais, apenas obedecem ordens para manter seus empregos, até que uma crise local ou global os façam perdê-los.

E, então, surgem discussões como a de que é preciso fazer algo para manter o emprego das pessoas. A questão é: para que manter o emprego das pessoas? Neste sistema social, a regra é que o sucesso de um será sempre o fracasso de outro, então, se não perde a empresa, perde o funcionário ou ex-funcionário....e muitos mais. O que muitos não querem ver é que está tudo interligado, que a geração de empregos - embora no topo da lista das atividades sociais, como a de maior nível e valor - não é suficiente se for ação isolada. Mas, enquanto o valor da nossa sociedade estiver naquilo que gera dinheiro e nada mais, então ninguém vai trabalhar sem que seja num emprego.

Com todo este 'blá blá blá' não quero dizer que a mim parece ou é fácil, mas que o que se deve enfrentar é maior do que a crise financeira ou o desemprego, é a crise existencial do ser humano e do sistema que ele criou e ao qual delegou o poder de reger sua vida, como se acionasse um piloto-automático.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Uma recomendação

Leiam em http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/marco2009/ju423_pag08a.php

Bióloga utiliza linhagens de fungos para biodegradação de garrafas PET
RAQUEL DO CARMO SANTOS

sexta-feira, 20 de março de 2009

Culinária, o tempo e o relógio


Sempre que vamos à cozinha dispostos a preparar algo, nos munimos de receitas. Quero dizer, nem sempre. Mas vamos considerar as vezes que seguimos uma receita. Um dos aspectos deste ‘manual de fazer comida’ é o tempo para executar cada etapa da preparação, certo?

Pois é exatamente sobre isso que quero ‘falar’. Quando incorporamos as receitas à nossa memória pessoal, passamos a decorar o tempo de cada coisa, pela forma, pela cor, pela textura, pelo cheiro que apresenta etc.

Isso significa que culinária exige grande sensibilidade. É isso não é uma descoberta minha, com certeza.

Mas a reflexão é a seguinte: com esta sensibilidade aguçada, passamos a perceber mais detalhada e intensivamente o que nos rodeia, despertamos nossos sentidos para desfrutar do que aí está.

E isso nos faz pensar que o relógio como co-adjuvante de nossa vida moderna reduz nossas habilidades e nossa sensibilidade e unifica o ritmo de cada um, além claro de nos tornar frios e, muitas vezes, insensíveis. Quando a receita diz, asse por 40 min em forno a 180º, supostamente não precisamos nos preocupar com os cheiros, cores ou barulhos que venham a ocorrer.

Presos ao relógio, não respeitamos nosso tempo de viver cada momento e nos defrontamos com a necessidade de racionalizar instantes que são pura sensibilidade. E nos distanciamos da verdade mais autêntica de todas que é a nossa própria, sem comparações, sem julgamentos. Delegamos a uma máquina a função e o direito de controlar as nossas vidas e fazer delas um meio de legitimar a produtividade industrial, e criamos e usamos esta máquina no afã de viver mais em menos tempo de vida. Ou seja, otimizar o tempo que temos, mas negligenciar o nosso real aproveitamento.

Isto é bom ou é mau?


Temos em mente que devemos sempre fazer coisas boas. Ao menos é o que se prega explicitamente na sociedade em que vivemos. Mas o que é uma coisa boa?

Em verdade, depois da relatividade de Einstein, responder a esta pergunta ficou mais difícil, complexo. Porque é possível dar-se um exemplo e por diversos pontos de vista dizer que ele é bom ou é mau, e até mesmo seria possível estabelecer graus de bondade ou maldade para cada uma das definições.

Pois bem, esta complexidade existe, penso que apenas aqueles que se submetem a uma única doutrina, acreditando pia e cegamente nela, é que são capazes de simplificar esta realidade. E isto acontece tanto na religião, quanto na política, ou mesmo na ciência – como as teorias que limitam a possibilidade de conhecimento de um profissional.

A polaridade ou, em alguns casos, o maniqueísmo – bem e mal – é algo que se origina de nosso pensamento linear. Porque no sistema de pensamento cartesiano: ‘penso, logo existo’, concluímos que: ‘quando não penso, não existo’. Isto significa que não temos mais do que DUAS alternativas. Se algo funciona, ele é bom. Se algo não funciona, ele é ruim. René Decartes não previu que um relógio que não funcione mais possa ser um objeto de museu, ou talvez apenas uma imagem na mente de alguém, em sua memória, a representação de algo mais. O mecanismo do relógio pode não funcionar, mas ele tem outra função – ele é bom porque representa algo, ou ocupa um espaço na vida de alguém significativo. Podemos pensar inúmeras alternativas.

Parece-nos que a polaridade é algo físico que emerge do mundo palpável – o imã tem dois pólos, talvez haja variações as quais não têm função para nós ou que ainda não foram identificadas, sei lá (são hipóteses, mas nos permitem romper com o óbvio). Mas eu não acredito que as coisas simplesmente surjam naturalmente, afinal estamos o tempo todo fazendo interpretações e comparações do que ‘sentimos’ no ‘mundo real’ com o que criamos no ‘mundo imaginário’. É um diálogo. Nem uma ilusão. Nem um realismo naturalístico.

Portanto, a polaridade bem e mal não reflete a realidade complexa repleta de nuances em que estamos inseridos e, inclusive, na qual acredito haja dimensões as quais não acessamos, ao menos não conscientemente.

Ainda assim, temos que compreender que a linearidade traduz o que representa a nossa capacidade mental e sensitiva hoje. Embora vivamos num mundo multimidiático, podemos ouvir uma música e escrever sobre assunto desconexo dela ao mesmo tempo, mas não podemos dizer duas palavras simultaneamente, nossa constituição física não permitiria. É claro que existem as exceções e estes casos devem ser estudados, mas tomemos como parâmetro a maioria dos seres humanos hoje.

De qualquer maneira, ainda que nossa percepção nos dê a oportunidade de ver apenas dois pólos – positivo ou negativo – no ‘mundo real’, é importante lembrar que seja qual for o ponto de vista, o bom e o ruim sempre estarão presentes ao mesmo tempo, e o que nos permite dizer que algo é bom ou é ruim é tão somente nossa percepção e nossa imaginação – portanto, as expectativas, os valores, a história, as memórias, as doutrinas, os dogmas, as crenças etc. – sobre este ‘algo’.

A sustentabilidade e o egoísmo da humanidade


Quando discutimos sustentabilidade, estamos sempre relacionando-a com temas e aspectos aos quais aplicados este conceito nos garantiram recursos e uma vida melhor para a geração atual e as demais que se seguirão. Mas é importante lembrar que o primeiro fator responsável por desequilíbrio do ecossistema terrestre diz respeito à proliferação do homem, como espécie de alta produtividade e o qual não tem predador à altura a não ser os próprios fenômenos naturais resultado de sua atuação de degradação da natureza.

Portanto, quando queremos garantir recursos às gerações não estamos pensando nas gerações de pássaros, plantas etc., ainda que não chamemos assim. Se bem refletido, esta afirmação que acabo de fazer significa dizer que o homem quer continuar proliferando sua espécie, ainda que o crescente demográfico signifique as irregularidades que o sistema natural vem apresentando, algumas bem evidentes, outras ocultas, silenciosas e vagarosas.

Esta atitude continua sendo egoísta frente às demais espécies. Entretanto, acredito que, aos poucos, vamos tomando consciência do quão arraigados estamos ao estilo de vida que criamos, tanto que usamos a mesma lógica que ameaça a vida no planeta para falar sobre um novo estilo de vida necessário para a sustentabilidade tão desejada, ou ao menos, aparentemente objetivada.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Lavar ou reciclar, eis a questão

Ultimamente, diversos amigos têm trazido à tona uma questão aparentemente paradoxal, mas em voga: “É melhor usar copos de plástico descartáveis, que geram um acúmulo de lixo a ser reciclado (um novo processo ‘produtivo’ que usará novos recursos naturais) ou usar copos de vidro, que serão lavados inúmeras vezes por longo período, provocando contínuo descarte de resíduos à natureza, mas menos lixo a custo prazo?

Diante de algumas visões ecológicas, entre elas a de 'ecologia profunda' de Fritjof Capra e a de 'ecoefetividade invés de ecoeficiência' dos autores William McDonough & Michael Braungart (livro "Cradle to cradle" - Remaking the Way We Make Things), pode-se dizer que o ideal é pensar em todo o processo, toda a cadeia produtiva e não apenas no produto. É uma reflexão árdua, mas necessária, que muitas empresas já fazem principalmente frente a outros indicadores do processo produtivo e comercial, mas que diante dos indicadores da sustentabilidade, ainda não têm parâmetros muito certos. E, portanto, nem mesmo os têm os consumidores.

E como pensar o processo?

Comecemos pelo copo de plástico. Para ser produzido, a fábrica de copos de plástico deve desenvolver um planejamento em que definirá o tipo de material, que tipo de polímero será usado na confecção do produto final. Neste mesmo momento, é preciso decidir o design do copo e até mesmo seu tamanho, mas não apenas do ponto de vista do mercado ou da concorrência, ou dos custos financeiros, é preciso pensar que o tamanho e a espessura do copo irá definir o volume de material utilizado e depois descartado/reciclado e o grau de desperdício inerente a ele. Se o copo é muito grande e fino, sua resistência é menor e torna-se mais vunerável a rachaduras, o que exige que se use mais de um copo ou que se descarte logo um para usar outro.

Além disso, é preciso pensar quais são os resíduos químicos - que serão despejados no ar, no solo e água - gerados neste processo produtivo, inclusive considerando o processo de produção dos fornecedores das matérias-primas - sejam elas principais ou secundárias na fabricação. É necessário, ainda, avaliar se estas matérias-primas permitirão que o plástico seja reciclado sem maiores danos ao meio ambiente - pelo processo de reciclagem - ou para a saúde humana - dependendo do seu uso (novos copos, garrafas, roupas etc.).

Cada decisão no momento de desenvolvimento do produto será crucial para definir o seu grau de sustentabilidade. Inclusive a estrutura arquitetônica e do maquinário da empresa influencia no maior ou menor impacto da produção ao meio ambiente - maior ou menor desperdício e maior ou menor despejo de resíduos ou mesmo de maneira mais ou menos prejudicial.

Continuando, imaginemos que além do processo produtivo, haverá que pensar no tipo de transporte e combustível utilizado para distribuir este produto, fazê-lo chegar às prateleiras das lojas e finalmente no ambiente onde será 'consumido'. É importante lembrar que se o copo de plástico atender a todos os requisitos para ser um produto sustentável em sua produção, ele deverá fazê-lo inclusive no processo de separação, recolhimento, transporte, lavagem etc. do copo usado a ser reciclado. Entretanto, é importante lembrar que os consumidores e cooperativas os quais muitas vezes assumem a responsabilidade pela maior parte do processo de reciclagem, não estão tão preparados nem fiscalizados quanto a empresa que produziu o copo pela primeira vez.

Antes de concluir, pensemos, agora, sobre o processo do copo de vidro. Todas as etapas de desenvolvimento, desde a estrutura de fabricação, do produto, dos fornecedores e da distribuição são similares à do copo de plástico, com variações de ordem técnica e de impacto de um ou de outro e dependendo, é claro, da sua finalidade de uso. É importante lembrar que o vidro também poderá passar por um processo de reciclagem, mas isto ocorrerá provavelmente mais tarde em relação à sua produção do que o copo de plástico - descartado logo após seu uso (consideremos aqui o comportamento normal e não as exceções).

Neste momento, é importante que tomemos como parâmetro um usuário comum para estes dois produtos - um indivíduo, consumidor final, que combina o uso de copos de vidro no seu dia-a-dia e os copos descartáveis de plástico, em festas de aniversário, por exemplo. Neste caso, ele se pergunta se deve adotar o copo de plástico no dia-a-dia, porque este pode ser reciclado e não precisa ser lavado, ou se adota o copo de vidro, que não precisará ser descartado, nas festas de aniversário.

Bem, se este usuário adotar os copos de plástico no dia-a-dia, ele terá um acúmulo de lixo maior ao final do dia, mas ao separar o lixo poderá disponibilizar o material para reciclagem. Considerando um ambiente ideal, em que a coleta seletiva é feita regularmente e que este lixo recolhido é efetivamente levado a cooperativas de reciclagem, o que ocorrerá é que este material junto a outros similares passará por um processo que usará recursos naturais como água - para a lavagem - e a energia elétrica - para a homogeneização da massa em nova matéria-prima, entre outros, até que se direcione a um novo processo de fabricação. No entanto, é preciso lembrar que haverá não só copos usados, mas uma infinidade de outras embalagens de plástico envoltas em outros materiais ou tintas, os quais não serão necessariamente eliminados antes da homogeneização. Disto o resultado é uma massa que pode não ser própria para o contato com o corpo humano ou com alimentos. Mas, se o material for apenas dos copos feitos com materiais passíveis de reciclagem sem prejuízo para a saúde ou meio ambiente, então, ao fim do processo poderemos ter novos copos descartáveis reciclados. Mas também é importante ressaltar que no primeiro processo de produção, os engenheiros tiveram que escolher um plástico que pudesse ser eternamente reciclado com a mesma qualidade, caso contrário a qualidade do produto reciclado seria pior, além de ter gasto mais recursos naturais para serem fabricados e despejar resíduos no ambiente.

E, se este usuário escolhesse o copo de vidro para as festas de aniversário. Certamente, não haveria o conforto de descartá-lo. Alguém haveria de lavá-los, para o que utilizaria água e algum tipo de sabão ou detergente. Mas, ao fim do dia, não haveria o mesmo volume de lixo do plástico, embora haja o inconveniente do descarte quando o vidro quebra - o que infelizmente pode causar acidentes para o usuário ou mesmo para os lixeiros - já que não existe ainda uma forma padronizada, caseira mas segura de descartar o vidro quebrado. De qualquer maneira, este seria um caso esporádico, no geral a maioria dos copos 'sobreviveriam' à comemoração sem causar incidentes ou acidentes.

Diante destas duas situações, não me arrisco a fazer os cálculos matemáticos ou estatísticos para saber a quantidade de água utilizada em um processo ou outro ou mesmo a quantidade de detergente, ou a quantidade de energia elétrica etc. para definir a ecoeficiência (termo usado e criticado por MCDonough e Braungart) de cada um. Mas, ouso dizer como jornalista interessada, curiosa e mera principiante no estudo da sustentabilidade, que não basta ao usuário - neste caso 'amigos' como citei - escolher qual copo usar, mas conhecer todo o processo da extração das matérias-primas até a produção de um produto reciclado ou seu descarte, e a rever seus próprios procedimentos e hábitos, como parece ser a tendência do comportamento do consumidor numa sociedade em que o setor privado e as ONGs assumem cada vez mais as responsabilidades sócio-ambientais e as tornam visíveis em sua comunicação - seja no produto em si, na embalagem, ou nas ações que praticam junto a seus stakeholders.

Então, por fim, eu responderia a estes meus 'amigos': "Consumam e usem um tipo ou outro de copo, mas não o façam indiscriminadamente. Se a preocupação existe, é importante usá-la como motivação para selecionar melhor o que se consome, além de se reduzir o consumo, e isso com relação a todos os produtos e recursos. No caso do copo, o usuário deverá escolher o copo, o detergente, a água - a procedência deles e como serão usados, reusados, reciclados e descartados. Em resumo, a resposta é pensar no processo como um todo e não de maneira fragmentada, porque a ecologia não se faz de um aglomerado de fragmentos, mas de um todo que existe por suas conexões saudáveis e, poderíamos dizer, sustentáveis. E, como cada decisão das empresas é essencial para respeitar a saúde destas conexões também são as decisões do consumidor e/ou usuário."

Filosofia da sustentabilidade

Foto: Aline (eu mesmo)


Para falar de sustentabilidade, é curioso e interessante buscar a origem do conceito e a etimologia das palavras que lhe dão suporte. Só então poderemos chegar a uma definição prática mais adequada de sustentabilidade, que não seja superficial ou hipócrita. É importante dizer que somos os responsáveis de qualquer maneira e que a mudança de hábitos é o que há de mais essencial nesta concepção e a mais difícil de praticar.

A origem do conceito pode ser encontrada na internet. Buscando, encontrei o seguinte texto: “O conceito foi introduzido no início da década de 1980 por Lester Brown, fundador do Wordwatch Institute, que definiu comunidade sustentável como a que é capaz de satisfazer às próprias necessidades sem reduzir as oportunidades das gerações futuras.” (CAPRA in TRIGUEIRO, 2005, 19). É a propriedade de um processo que, além de continuar a existir no tempo, revela-se capaz de: (a) manter padrão positivo de qualidade, (b) apresentar, no menor espaço de tempo possível, autonomia de manutenção (contar com suas próprias forças), © pertencer simbioticamente a uma rede de coadjuvantes também sustentáveis e (d) promover a dissipação de estratégias e resultados, em detrimento de qualquer tipo de concentração e/ou centralidade, tendo em vista a harmonia das relações sociedade-natureza.” (fonte: http://www.sustentabilidade.org.br/)

Sem usar a palavra “sustentabilidade”, Fritjof Capra já descreve este conceito em seu livro O Ponto de Mutação, editado também em 80. Nesta obra, Capra apresenta a concepção ou visão sistêmica do mundo. Ele apresenta uma perspectiva ecológica contraposta ao sistema fragmentário que dá suporte ao mundo moderno do fim do século XX e início do XXI.

Capra ressalta a obsessão da sociedade capitalista pelo crescimento, investindo em tecnologia pesada, estimulando o consumo perdulário e a exploração rápida dos recursos naturais. Estes seriam alguns dos fatores responsáveis por provocar os desastres e catástrofes naturais de repercussão no mundo social, além dos problemas sistêmicos nos âmbitos econômico, político etc.

A idéia de crescimento contínuo e progressivo reflete um pensamento cartesiano (René Descartes), em que há uma única direção a se seguir e a partir da qual para cada causa existe um efeito, reduzindo a ‘teia complexa de interdependências’ que constitui o ecossistema – em que o homem está inserido – a um único fio condutor, linear e simples.

O conceito de sustentabilidade está diretamente ligado ao da ‘teia complexa de interdependências’, porque representa a capacidade de transformação (inerente à natureza) aplicada à cultura humana. Ser sustentável significa reconhecer que a realidade é um processo contínuo e sistêmico (não-linear), no qual as relações (sociais, naturais e sócio-ambientais) ocorrem tanto simultaneamente quanto subseqüentemente e que cada parte tem, inevitavelmente, responsabilidade nesse processo. Este é o padrão existente na natureza: a ecologia (não no sentido do estudo do habitat e de seus ‘moradores’, mas como a lógica de interdependência entre os seres e recursos que convivem em determinado ambiente).

Na cultura humana, para ser sustentável é necessário que se respeite esta mesma regra: a transformação. Só quando existe uma proposta sistêmica dinâmica, e pessoas dispostas às mudanças, é que é possível manter a vida de maneira saudável ao longo de muitos anos e gerações.

O termo manter é uma das definições possíveis à palavra ‘sustentar’, que dá suporte ao conceito de sustentabilidade. Mas é importante utilizá-lo de forma adequada, já que para manter, neste caso, ou sustentar, é preciso transformar. Não há formas de mantermos a estrutura, o comportamento e o pensamento que se tem hoje e garantir a sustentabilidade. Um ecossistema só é sustentável porque os seres e recursos que o compõem trocam energia e matéria em ciclos contínuos, transformam-se frequentemente, não permitindo que haja desequilíbrio duradouro o bastante para causar seu colapso.

As demais definições de sustentar, como suportar, amparar, nutrir, fortificar, não deixam de ter o mesmo significado que manter, desde que compreendido o seu uso devido. Caso contrário, sustentabilidade seria sinônimo da habilidade de manter a sociedade que aí está (como está), em processo lento ou rápido e contínuo de degradação da vida.

Quando Capra sugere uma visão sistêmica e não-linear da realidade, fundamenta-se na teoria quântica, que vai nos levar à teoria do caos. Em seu livro Caos, a criação de uma nova ciência, James Gleick apresenta, em um dos capítulos, os fatos que deram origem ao termo ‘Efeito Borboleta’ – tão reproduzido, e até representado em roteiro de cinema.

A teoria do caos vem ao encontro da concepção sistêmica de que fala Capra e sua descrição reforça a existência de uma ‘teia complexa de interdependências’, na qual pequenas mudanças geram uma cadeia de acontecimentos que podem provocar mudanças maiores e significativas.

Isso mostra o quão inter-relacionados estamos com todos os seres e os recursos naturais essenciais à vida e como cada um de nós tem responsabilidade no processo como um todo.

O ‘efeito borboleta’ em si surgiu provavelmente do artigo ‘Predictability: Does the flap of a butterfly’s wings in Brazil set off a tornado in Texas?” (Previsibilidade: Poderia o bater de asas de uma borboleta no Brasil causar um tornado no Texas?), resultado de uma pesquisa que Edward Lorenz desenvolveu. No laboratório em que trabalhava, ele tinha um novo computador eletrônico que simulava condições atmosféricas. Não vou entrar em detalhes, mas o importante é dizer que ele identificou que ao inserir pela segunda vez os dados originais de uma simulação das condições climáticas, ocorria uma pequena variação do primeiro para o segundo gráfico impresso.

Considerando que os dados inseridos eram os mesmos na primeira e na segunda inserção, os gráficos deveriam ser idênticos, o que não ocorria. Ao longo das repetições, ele notou que as variações iam aumentando até que toda a semelhança com a forma original do gráfico desaparecesse. Isso nos permite crer que pequenas mudanças podem ter efeitos catastróficos ao longo do tempo e do espaço.

Por fim, gostaria de exemplificar a aplicação do conceito da ‘teia complexa’ a uma situação socialmente representativa, descrita no livro Freakonomics, de Steven D. Levitt e Stephen J. Dubner.

Os autores descrevem os fatores porque houve a redução de crimes em determinado estado dos Estados Unidos. Aparentemente, isso havia ocorrido pelo aumento de efetivo policial, mas, por fim, revela-se que a redução de crimes havia ocorrido mais significativamente por uma causa legal ganha em outro estado, por uma mulher pobre, que pedia o direito de abortar para aquelas que engravidassem e não tivessem condições financeiras para criar, alimentar e sustentar os filhos. Causa ganha, o número de delinqüentes, supostamente filhos destas mulheres pobres, caiu, e com ele o índice de crimes.

Isso mostra que existem inúmeras causas para um mesmo efeito e vice-versa (uma causa para inúmeros efeitos). Há uma complexidade de eventos simultâneos e subseqüentes que influenciam direta ou indiretamente, em maior ou menor grau, eventos outros, de proporções similares, maiores ou menores.

A partir destes esclarecimentos, convido-os a pensarem a sustentabilidade como algo complexo que está e continuará exigindo um esforço de mudança e transformação além do que temos feito hoje, ao executar ações fragmentadas, embora repletas de boa intenção e coerentes à manutenção dos negócios e do conforto que o sistema atual parece proporcionar.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Escrever e dançar para si

Confesso que ultimamente não tenho tido nem muita inspiração nem muito tempo para escrever aqui, dado o número de atividades outras.

Mas é importante dizer que continuo escrevendo.

Existem duas grandes paixões que são distintas mas que representam a importância de fazermos as coisas por nós mesmos. Quero dizer, escrever e dançar.

Nós jornalistas estamos acostumados a escrever para os outros. A visão do leitor sempre está em nossa mente, antes de iniciarmos a escrita. E, hoje, a ausência de tempo para releituras como no passado, exige que o texto do jornalista seja um texto final, de editor. Ao mesmo tempo que comercialmente é importante e poderíamos até dizer 'didaticamente falando' - sem a intenção de profanar o termo - é importante visualizar o leitor, porque o jornalista escreve para o interesse público e, portanto, tem que vislumbrar o leitor.

Mas, quando encontramos a escrita livre, como esta, sem o compromisso de direcionamento, sentido ou sem limite de espaço, encontramos a oportunidade de escrevermos para nós mesmos. Pode ser para organizar o pensamento, para expressar uma emoção, para revelar uma descoberta, para compartilhar momentos vividos, para descobrirmos a nós mesmos.

E, assim como escrever tem esta riqueza, dançar também tem estes dois vieses. Dancei ballet clássico e moderno - com apresentações e etc. - por cerca de 16 anos. E nestes anos a maior preocupação era figurino, maquiagem, técnica, tudo para atender às expectativas de um público e/ou de um jurado, para obter reconhecimento e glória - embora às vezes ocorria o contrário.

Mas os momentos em que dançava para mim, as improvisações, os momentos em que ainda danço, é quando realmente sinto a música penetrar as células e movimentar o que há de mais essencial em mim e me transformar de homo sapiens - ereto e bípede - em instrumento de arte.

sexta-feira, 6 de março de 2009

A escrita e a coisificação do conhecimento

Às vezes me pergunto se penso de forma muito complexa sobre as ‘coisas’. Muitos dirão “simmm”, sem hesitar. Eu acho que sim, mas ‘vejam bem’ esta reflexão. Rs

Quando os grupos sociais compartilhavam as memórias de seus membros mais anciãos, o valor estava centrado na pessoa que contava, que era detentora daquelas informações e conhecimentos tão preciosos, porque não havia outro meio de acessá-las.

Com a escrita, o conhecimento que antes era privilégio de poucos – os sábios – a quem se dirigiam os mais novos – tornou-se um documento, de acesso permanente e passível de reprodução, poderíamos dizer ‘mais fiel’, a tal ponto que a credibilidade da fala foi relegada a segundo plano, tanto como ‘verdade’ como palavra de honra, de confiança. Assim, também foi relegada a segundo plano a credibilidade de quem ‘fala’.

O documento escrito – o suporte da escrita – tornou-se mais significativo e valorizado nas sociedades, distanciando o conhecimento da pessoa.

Hoje, com a avalanche de novos meios e tecnologias para acessar e produzir/transmitir informações, as pessoas se distanciaram ainda mais, as relações também se coisificaram a ponto tal que o meio dá credibilidade à informação, mas não necessariamente a pessoa que foi fonte ou a transmitiu.

Sempre lembro de uma historinha que um professor da faculdade contava, não me lembro bem o nome do garoto, mas ele era um ‘foca’ – nome que se dá ao jornalista novato que chega à redação dos jornais – e recebeu a tarefa de saber como se escrevia o nome de um país – se eu não me engano - do Oriente Médio. A dúvida, colocada pelo editor, era se a palavra seria escrita com ‘s’ ou ‘z’ ou algo do gênero. É importante dizer o grau de ansiedade e desespero de um foca que recebe tal incumbência do seu Editor.

Bem, angustiado por não encontrar nenhuma fonte de referência onde pudesse encontrar como o nome do país era escrito, o foca resolve ligar para a mãe. Afinal, mãe sempre sabe ‘tudo’ rs. O garoto conversa com a mãe e, ela, ainda que em dúvida, o convence de que a palavra de escrevia com a letra ‘s’ (adianto que não me lembro a palavra e nem a letra, mas é para ilustrar).

Então, o garoto, crente na sabedoria de sua mãe passa a informação ao Editor.

No dia seguinte, quando o garoto volta à redação, recebe um telefone de sua mãe, que diz: “Oi filho, o país de que perguntou ontem se escreve com a letra ‘s’ mesmo”. O garoto alegre, diz: “É mesmo mãe, que bom!”. Então, ela finaliza: “Saiu no jornal, hoje”.

Isso é para ilustrar que, na sociedade em que vivemos, o que foi escrito e publicado é ‘verdade’, independente de que fonte tenha sido consultada.

As verdades e o fim dos tempos

“O homem tende à verdade. Por isso, a falência da verdade é a principal causa da decadência de qualquer sociedade”. (Este trecho foi retirado do texto O jornalista e o educador – de Carlos Alberto Di Franco – Diretor do Master em Jornalismo, professor de ética e doutor em Comunicação pela Universidade de Navarra, é diretor da Di Franco – Consultoria em Estratégia de Mídia)


Antes da explosão dos meios de comunicação que, vamos considerar aqui, foi iniciada com a disseminação do rádio e da TV – principalmente nos pós segunda guerra – cada cultura, cada grupo social, estava mais envolvido em sua própria rotina, com seus próprios fatos ou acontecimentos – ordinários ou extraordinários – do que com os dos demais povos existentes na face da Terra (pensemos de uma forma geral e não em particularidades de indivíduos que se dedicavam a conhecer outras culturas).

O caminho da informação, naquela época, era claramente institucionalizado e limitado, sendo traçado por organizações e pessoas com autoridade legítima e responsabilidade pela transmissão de ‘a verdade sobre as coisas’.

Atualmente, quero dizer de alguns anos para cá, as verdades de inúmeros povos e culturas se contradizem nos jornais, nas revistas, na TV, na internet etc., e não há razão que dê soberania a uma cultura e não à outra fora de seus territórios de origem. Nem as organizações internacionais, que mediam o relacionamento entre os povos têm sido capazes de manter uma linearidade do pensamento humano que garanta existir uma única verdade para a política, para a religião, para a economia etc. em todo o mundo. Até a história, que antes se constituía como uma grande narrativa universal e cronológica, hoje ganha diversas novas perspectivas e interpretações.

A evolução das tecnologias de produção, reprodução e transmissão de dados e informações e a ampliação do acesso a elas por um número cada vez maior de pessoas em todo o mundo, impede que esta linearidade de pensamento persista.

Este processo do ‘fim da verdade’ é muito importante para uma reflexão sobre como os discursos são poderosos para exaltar uma visão da realidade e suprimir outra; de como é possível um homem destruir o outro ou outra cultura, com argumentos nestas memórias discursivas, nesta história linear que se construiu.

Ao mesmo tempo, o fim da verdade faz emergir a complexidade e o caos que é a convivência humana. Pode ser definido como o que se chamou de 'Torre de Babel' (na Bíblia) ou, em outras palavras, é a anarquia dos sentidos, das crenças, dos valores, dos princípios, dos hábitos, dos interesses. E, neste cenário, a maioria das pessoas entra num estado de confusão mental extrema, muitas vezes sem volta.

Esta é a crise dos sentidos, porque o que tinha um significado em determinada cultura passou a ter inúmeros outros em culturas diversas e perdeu o sentido dado a sua existência, tornou-se um vazio que pode ser preenchido com qualquer coisa. Esta crise é ainda maior do que a financeira e, talvez, a causadora desta última, porque silenciosa, transforma a doença mental em epidemia, passível de compor o fim dos tempos ou a cegueira sobre a qual escreveu Saramago.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Proibido entrar com animais

A que uma gripe não nos expõem.

Por dois dias fui à padaria acompanhada da minha mãe, depois de alguns dias na cama. Calor, frio. Digamos que meu termostato estava com um pequeno problema.

Então saimos - afinal, precisava respirar outro ar que não o que saia de minhas narinas.

Chegando à padaria, a o velho e mau ar condicionado. Afinal ele fora um dos vilões dos últimos dias, preferi evitar.

Minha mãe entrou e eu fiquei ali fora, vendo o movimento.

De repente, me voltei para dentro da padaria e me senti um cachorro preso pela coleira ao corrimão da escada de saída, um aviso dizia: "Proibido entrar com animais."

Que ótimo momento para ser ecológico e considerar que cada ser vivo tem a mesma importância na sobrevivência do planeta. rs

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Arquitetura, engenharia e relacionamento

Perdôem-me, não me lembro de onde tirei esta imagem.

Sabe-se que o ambiente tem uma forte influência sobre a vida de qualquer espécie, seja humana ou não, que além do clima e geografia, que a disposição das coisas, paredes, portas, janelas etc. naquilo que chamamos de habitat ou lar influem de forma decisiva no nosso dia-a-dia. E não estou falando de energias ou feng shui, estou falando do que há de mais ‘concreto’ nisto tudo.

Por mais de 20 anos, eu morei em um edifício com quatro apartamentos por andar e grande área de lazer. Resultado: crianças, jovens, pais, mães, idosos...todos freqüentavam os espaços públicos do condomínio – escadas e corredores, elevadores – social e de serviço, playground ou simplesmente os bancos dispostos no térreo.

Outro resultado era fatal: todos dividiam a vida uns dos outros, houvesse ou não paredes e portas para separar a privacidade de cada um, este conceito estava um tanto quanto abalado naquele condomínio. É preciso dizer que foram anos maravilhosos da minha vida, tanto quanto são os de hoje.

Há menos de 2 anos, estou vivendo em um prédio que dependendo do horário do dia parece uma ‘cidade fantasma’. Não se encontram os moradores nem o vizinho do corredor, nem os demais. A arquitetura e engenharia do prédio contribuem efetivamente para isso. As escadas, só de incêndio. Dois ‘corredores’ – onde não dá nem pra pensar em correr – cada um para um elevador. Quase não se usa o elevador social. Para encontrar alguém é preciso usar o de serviço. O espaço para lazer é pequeno (em relação ao do condomínio anterior) e tem uma estrutura em que uma passagem não dá visibilidade a outra, impedindo, em geral, que as pessoas se cruzem.

É um lugar realmente delicioso. A iluminação, a decoração. Mas é muito interessante perceber que não existe espaço para compartilhar sua vida com o outro. É um espaço que cultiva a privacidade ao extremo, numa era em que os meios de comunicação escancararam a vida de qualquer um e a tornou disponível a qualquer lugar e instante.

Existe algo de encantador nisso e algo de assustador. Os fatos de que encontrar alguém será sempre surpreendente e inesperado e o outro fato de que enquanto procuramos pessoas interessantes pelas ruas, distantes dos nossos lares, podemos estar perdendo a oportunidade de encontrá-las logo aqui.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Para os alérgicos a lactose

Conheci uma sorveteria que faço questão de divulgar: a Oásis - na Av. José Bonifácio 461 - Jd. Flamboyant - Campinas-SP. (3253-4097)

Para quem é alérgico à lactose ou outros elementos que constituem o leite, é maravilhoso encontrar pessoas dedicadas a produzir alimentos sem este 'ingrediente'.

E, posso dizer, que além de não ter leite, o sabor é delicioso.

Voltar a poder tomar sorvete de massa é realmente um 'paraíso'.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Para os que buscam horas hilárias

Ontem fui assistir ao recém lançado 'Sim, Senhor', com o Jim Carrey.

Fico imaginando como será a contracapa quando lançarem o DVD:
- 'Fantástico' - New York Times.
- 'O filme mais hilário de todos os tempos' - USA Today. (risos)

Mas desta vez eu terei que concordar, porque realmente vivi minutos e segundos de intensa diversão. Foi o melhor filme dos últimos anos, me fez lembrar porque é bom assistir a uma boa comédia no cinema. O compartilhar de gargalhadas coletivas ou isoladas é uma oportunidade sem igual.


Há tempos não 'chorava de tanto rir'.
E, além das risadas, o filme ainda consegue oferecer momentos de reflexão sobre as decisões que tomamos a todo instante em nossa vida e ao caminho que trilhamos, se realmente estamos realizados. Certa vez, ouvi que quando não realizamos nossos desejos, quando procrastinamos as realizações que acreditamos nos satisfazem, ficamos presos a estes desejos e não conseguimos seguir em frente.

A quem se identifica, nem preciso desejar....mas, ótimo filme!

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

De perto, todo mundo é normal


É, Caetano, é verdade! Mas às vezes é difícil chegar perto.

Vivemos uma era de disponibilidade 24h - internet banda larga e 'telefone móvel', e-mail, chats, comunidades, Messengers, skype e mensagens de celular - além de todos os instrumentos maduros - telefone, carta, telegrama...

Não há mais espaço distante demais ou tempo muito longo para nos relacionarmos e, ainda, assim, conseguimos ficar distantes.

Estamos tão preocupados em responder os e-mails, as mensagens, os recados de caixa postal, as ligações etc., que não conseguimos estar integralmente presentes em nada. Estamos dispersos.

E a rapidez com que temos possibilidade de encontrar o outro é tanta que ficamos ansiosos, que não aceitamos esperar, que não damos tempo para reflexão, que nos tornamos imediatistas para ser o mais bem sucedido possível logo e ser feliz e aí...acabou. O relacionamento acabou, o dinheiro acabou, a alegria acabou....tudo se torna evaporável.

A velocidade da era contemporânea nos dá uma multiplicidade de alternativas de realização ao mesmo tempo e nos faz perder o foco de nossa própria vida. Não encontramos a nós mesmos e queremos encontrar o outro. Não nos relacionamos com nossos próprios pensamentos, sentimentos e sensações de forma saudável... nossas dores, nossos amores, nossas angústias, nossas alegrias...como poderemos nos relacionar com as/os do outro? Como chegar mais perto se estamos vivendo mais os meios – os instrumentos (e-mails, mensagens, botões, telefones etc.) – do que os fins – do que quem está do outro lado?

E se temos a preocupação de buscar o melhor de nós e nossa integridade sempre mais, como romper a barreira do outro, que se esconde atrás de todas estas ferramentas na certeza ou na ilusão de ‘ser normal’.

‘Ser normal’ – só isso daria outra longa reflexão. Mas vamos considerar esta afirmação como o que há de mais autêntico do ser humano, que passa a vida em busca de si, consciente ou inconscientemente, através do outro ou de si mesmo, através de hábitos saudáveis ou de vícios fatais, com experiências enriquecedoras ou vivências completamente banais e dispensáveis. Experimentando sempre.

Chegar perto, conhecer, estar apto a sentir de verdade a si e ao outro significa: ver/enxergar, ouvir/escutar, despertar o olfato, sentir o tato e o paladar/sabor, estar disposto a isso de coração aberto, antes de quaisquer julgamentos racionais ou irracionais.

Assim é possível chegar ‘perto’ e encontrar o ‘normal’ em si e no outro. Mas, eu sei, antes de tudo isso, vêm as expectativas, os desejos, a necessidade de reconhecimento, os orgulhos e as vaidades, as histórias de vida, as memórias, os traumas, as mágoas, as inseguranças, ansiedades... É, eu sei, e é isso que me faz escrever sobre isso aqui, justamente porque eu acredito que, como dizem os que tratam os vícios diversos, que o primeiro passo é reconhecer nossas fraquezas, sejam elas quais forem, porque isso nos fortalece, nos faz ver o quanto somos normais e nos permite vislumbrar um caminho para nos aproximarmos de nós mesmos e do outro.