segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Por uma definição de "amar"


Sempre que algo me incomoda, uma sensação de irritação, desconfiança, medo, raiva, toma conta de mim, no instante seguinte, o pensamento: ‘como seria enfrentar esta situação com amor?’

E o que é o amor? É certo que é um conceito convencionado, mas existe algo que se desperta em nossa mente e nossas emoções quando dizemos ou pensamos nesta palavra. Provavelmente, acessamos todos os pensamentos e sentimentos relacionados a este conceito, guardados no inconsciente coletivo; todos os momentos em que a palavra foi pronunciada com a intenção que ela carrega.

Mas, finalmente, se tivéssemos que definir, usaríamos símbolos, imagens, outras palavras, que ao longo dos séculos foram e são associadas ao ‘amor’ ou ao ‘amar’. No entanto, ocorre algo em nossas sensações, uma mudança que identifiquei todas as vezes que, no instante seguinte a um de medo, de irritação ou desconfiança, vivencie, pensei, ou mesmo pronunciei a palavra ‘amor’.

Ela veio, todas as vezes associada a respeito, a admiração, a reverência, a compreensão, a gratidão, a desapego. Mas, recentemente, estive pensando sobre a palavra, motivada por outras questões – e não por sensações – e percebi que, mais do que tudo, amar é compreender, é um sinônimo até de ‘saber’, ‘sabedoria’. Porque eu sinto que o sentimento de amor que se desperta em mim ocorre não quando desejo muito alguém, ou estar com uma pessoa, ou vivencio momentos de paixão, nem mesmo quando acaricio um familiar muito querido.

Ele se desperta quando ‘sei’ a posição das coisas e das pessoas, o lugar que elas ocupam na minha vida, sei a posição que eu ocupo e porque as relações se dão de uma maneira ou de outra. Eu simplesmente sei que é assim que deve ser. Compreendo o porquê a irritação me toma, o porquê das reações adversas das outras pessoas. Compreendo que, seja o estágio evolutivo que for em que estivermos, seja qual for nosso grau de autoconhecimento e sabedoria, todos temos boas intenções quando tomamos uma atitude, pareça ela boa ou má, no mínimo fazemos por instinto de sobrevivência de nós mesmos ou da espécie.

Então, vejo que quando sabemos, brota um sentimento de paz, e de que todos estão executando seus papéis como deveria ser, de que os sistemas em que estamos inseridos exercem um poder sobre nós e, muitas vezes, nos forçam a fazer coisas, a executar tarefas, a vestir roupas, a consumir, entre outras atividades; porque é neste ambiente, neste espaço e neste tempo que fomos designados a viver. Podemos buscar alternativas, podemos tentar nos isolar, fugir desta trama social em que nascemos, mas a verdadeira evolução se dá nela. Não me convenço de que é algo admirável o homem mais feliz do mundo estar num monastério. Até porque o conceito moderno de ‘felicidade’ é bastante Holliwoodyano. Respeito a escolha dos monges, mas é a diversidade de coisas e pessoas, e o turbilhão de vidas que se misturam em pensamentos, sentimentos, necessidades, desejos, sensações, ações e atitudes, que tornam mais intenso e venerável o processo de evolução e de autoconhecimento.

Por fim, concluo que amar é um sentimento de sabedoria suprema. É algo que lhe dá imensa gratidão de estar onde está, de ser quem é... e de que as pessoas que estão a seu lado estejam lá, que as que não estão, estejam vivendo suas vidas como deve ser, e entender a grandiosidade do mundo, da vida e a interdependência entre os seres e coisas, que faz do universo uma série de partículas, que se movem sem parar, num processo infinito de transformação, fora e dentro de nós, e que tecem aquilo que chamamos ‘realidade’.

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