Dia após dia, nos deparamos com notícias de catástrofes naturais, milhões de mortes por doenças, assassinatos etc. O volume e a periodicidade destas notícias e, em alguns casos, a forma como são veiculadas - diga-se de passagem, em alguns casos, sem o mínimo de ética - nos tornam, como muitos estudiosos já afirmaram (bem melhor do que eu), passivos, hipnotizados, como se tudo acontecesse naturalmente.
Bem, tenho que concordar que causa certa indignação a passividade em que as pessoas se encontram. Mas confesso que a minha indignação maior não é quanto à passividade dessas pessoas em relação ao que se passa no mundo, mas em relação ao que se passa consigo mesmas.
Nossa mente racional tem por hábito fazer comparações entre situações diferentes e estabelecer uma hierarquia de qual é melhor e qual é pior. Pode ser que alguns tenham razão em dizer que antigamente era muito melhor, porque as pessoas podiam ser escravas, mas elas tinham o que comer. Bom, eu não pretendo chegar a uma conclusão sobre esta hipótese, mas o que posso dizer é que, em toda história do HOMEM, tanto a compaixão quanto a crueldade conviveram, as catástrofes naturais sempre existiram. O que mudou é que na modernidade, nossa mente é invadida a todo instante com imagens e informações sobre os atos de homens das mais diversas etnias e de catástrofes das mais diversas.
As imagens da TV e do cinema, principalmente, criaram um mundo imensamente maior na cabeça do homem moderno do que o era para o homem feudal, antigo, ou pré-histórico. Este processo é interessante porque nos forçou a uma ampliação da consciência, ainda que muitas vezes ela seja mais degradadora do que o contrário.
Costumo pensar que uma verdadeira ampliação da consciência seria ver todas estas notícias, que se tornam habituais, corriqueiras, ordinárias, e compreender que, a crueldade, a compaixão, o amor, a dor, o sofrimento, a morte, a alegria e a celebração sempre fizeram parte da sociedade humana e de seu relacionamento com a Natureza; que embora desejássemos que todos tivessem responsabilidade sobre seus atos e pudessem tratar o mundo e o outro com respeito e amor, não temos controle sobre o comportamento do outro e, portanto, idealismos apenas criam oportunidade para frustrações.
Diante desta realidade complexa, que a mídia intensificou em nossa mente, a saída é olharmos para nós, nossa saúde física, mental, emocional. Indignar-se com as notícias não é verdadeiramente o que fará a diferença, o importante é saber o que cada um de nós vai fazer com estas imagens e informações que invadem nosso dia a dia, por vezes nos consolando, por outras nos agredindo.
Descobrir o que nos move, o que provoca amor ou dor e o que isso faz com nossas vidas, nossa saúde e com aqueles com quem nos relacionamos, é o melhor desafio diário que alguém pode ter.
Eu, sinceramente, muitas vezes, prefiro não saber de algumas notícias, embora jornalista.
Sei que, em alguns casos, não terei controle sobre o que aquela imagem ou informação vai provocar no meu emocional, então simplesmente prefiro não saber. Nossa sociedade valoriza demais aqueles que acumulam toneladas de informações superficiais sobre tudo, mas isso criou muitos homens dispersos, ansiosos, descontrolados emocionalmente, confusos mentalmente, agressivos, egoístas etc. É importante lembrar que toda a agressividade que se apresenta existe de forma latente em todos nós, o que precisamos é, sabendo disso, escolher o que faremos a seguir.
A mídia nos educa a todo momento, consciente ou inconscientemente, mas as instituições que produzem seu conteúdo nem sempre têm compromisso com esta função 'educativa' e, assim, nós temos que assumir este papel, sermos capazes de discernir entre o que é essencial para sermos pessoas melhores e o que nos torna doentes - física, mental ou emocionalmente. Esta é a simplicidade complexa: estar presente, consciente em cada escolha que fazemos, escolher cada imagem e informação a que teremos acesso, diariamente, para que, no longo prazo, o efeito cumulativo seja positivo para nossa qualidade de vida e daqueles que nos cercam.
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