domingo, 2 de maio de 2010

As intenções que movem o mundo

Toda ação vem carregada por alguma intenção. Bem, podemos dizer que sim, mas nem todas as pessoas têm consciência da verdadeira intenção que as levaram a agir de uma forma ou de outra.

Mas, podemos concordar com o fato de que são as intenções que nos movem, nos motivam em direção à ação.

Dizem que de boas intenções o inferno está cheio. Se são boas ou não, não saberia dizer, mas o que posso especular é que sendo o fogo, o símbolo do inferno, e seu significado a transformação, no inferno a consciência das intenções não existe.

Assim, poderíamos dizer que a motivação no inferno seria o tridente do diabo afiado e prestes a espetar qualquer um da redondeza. Motivação esta que geraria a intenção do indivíduo de não ser atingido pelo tridente e não sofrer as penas de não agir de acordo com as ordens desse ambiente ‘tenebroso’.

Bom, mas o que quero dizer não é que céu e inferno existem e que se você não tem consciência das suas intenções, dos porquês você age, então vai para o inferno. Fique tranqüilo, eu não estou apta a designar tal destino.

Mas posso falar sobre como acredito que essa simbologia está representada na nossa rotina diária.

Basicamente, vejo duas formas de viver a vida: uma, buscando conhecer-se e aprimorar-se a cada dia como ser humano e assumindo o controle sobre as decisões possíveis, ou simplesmente aceitar aquilo que lhe é imposto, delegando o poder sobre sua vida aos outros.

A sociedade oriental caminha, em geral, seguindo a primeira forma e, a ocidental, a segunda. Podemos dizer que no Brasil, a segunda prevalece, sendo assim manifestada nas mais diversas esferas sociais e culturais.

Nosso sistema educacional, que nos prepara para atuarmos como ‘cidadãos’ nas diversas esferas sociais, tem como alicerce uma estrutura de ação-culpa-punição ou ação-mérito-recompensa. Isso significa que se implanta internamente (já na criança) uma figura de autoridade – representada durante a vida pelas instituições da Escola, Família ou Igreja – que vai avaliar sua ação como culpável ou passível de mérito. E essa figura ganha credibilidade à medida que a autoridade que a está implantando cria condicionamentos de recompensa ou punição para cada ação que o indivíduo executa ao longo da vida.

Esse sistema, é claro, tem o objetivo de limitar nossas ações àquelas que interessam aos que, nas circunstâncias, têm mais poder – mais dinheiro, mais acesso ao conhecimento, mais influência sobre as pessoas etc. E, dessa forma, passamos a não ter que avaliar nossas intenções para decidir por uma ação. Apenas avaliamos as experiências anteriores e se fomos recompensados ou punidos e repetimos ou não o mesmo tipo de ação.

Assim, nos distanciamos cada vez de nós mesmos, vivendo conforme a intenção do outro, que continua criando sistemas para manter nosso condicionamento civilizado.

Então, chegamos à seguinte conclusão: o inferno – seja ele sob a visão dos cristãos ou outra – é necessário à transformação daqueles que não se despertaram para a possibilidade de consequências negativas para ações bem recompensadas ou consequências positivas de ações punidas.


Consideremos o termo “inferno” como representação da transformação pela dor, pelo fogo que queima e transforma. E este não é o fogo da chama interna que se ascende no ser humano que expande sua consciência e alguns dizem “ilumina-se”, mas da chama externa, sobre a qual o indivíduo não tem controle e contra a qual não pode lutar, porque nem sabe o que está causando a dor.

Sendo assim, quando você não sabe qual sua intenção sobre a ação que tomou ou toma com frequência ou tomará, certamente é a intenção de outro que está movendo sua vida. Ou seja, sejam boas ou más intenções, sendo suas ou não, sem intenção não há motivação, e sem essa, não há ação, sem ação não há trabalho e, portanto, não há transformação. Assim, a intenção é o que move o mundo. Diante disto, basta você decidir se vai assumir a direção ou vai deixar que amarrem linhas invisíveis em seus braços, pernas e pescoço, balançando para um lado e outro, para cima e para baixo.

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