Um discurso recorrente diz: O trabalho dignifica o homem.
E é verdade. Eu acredito nisso. Mas não o trabalho como emprego, porque o emprego´é uma instituição criada pelo capitalismo em que independente de haver trabalho - ou seja transformação de energia, geração de energia - o indivíduo, vulgo consumidor, recebe um salário com o qual adquirirá produtos.
Com a crise, vemos uma discussão incrível acerca do número de demissões, de desempregados, pessoas que são, nesta condição, humilhadas pelo próprio sistema, porque perderam sua 'dignidade', não têm mais poder, poder de consumo.
E é aí que vemos a confusão trabalho, emprego, consumidor, cidadão.
Como pode ser cidadão, quero dizer argumentar política, sociológica e filosoficamente acerca de sua condição e do contexto em que está inserido, um indivíduo que foi educado basicamente para ser consumidor e, portanto, ter um emprego e um salário com este propósito?
Como pode ser capaz de ter uma postura ativa diante de sua própria vida, alguém de aprendeu que obedecer é o mais importante para manter este tão glorioso emprego, que 'coloca o pão em sua mesa'?
Delegou-se a tantos outros o poder de fazer as coisas, que o indivíduo ficou sem função, a não ser obedecer ordens. Falo de um grande número de pessoas, não todas, é claro.
Se estes indivíduos fossem cidadãos, estariam prontos a questionar aquilo que lhes é mais próximo, seriam capazes de estar desempregados sem se sentir humilhados; poderiam criar meios de trabalhar, de produzir, de trocar bens, sem que fosse necessário depender deste sistema emprego, salário, consumo, e sem apelar para os meios degradantes, como o tráfico, jogos, pirataria entre outros atos que são causadores da destruição de tantas vidas.
Muitos perderam a dignidade, porque não trabalham mais, apenas obedecem ordens para manter seus empregos, até que uma crise local ou global os façam perdê-los.
E, então, surgem discussões como a de que é preciso fazer algo para manter o emprego das pessoas. A questão é: para que manter o emprego das pessoas? Neste sistema social, a regra é que o sucesso de um será sempre o fracasso de outro, então, se não perde a empresa, perde o funcionário ou ex-funcionário....e muitos mais. O que muitos não querem ver é que está tudo interligado, que a geração de empregos - embora no topo da lista das atividades sociais, como a de maior nível e valor - não é suficiente se for ação isolada. Mas, enquanto o valor da nossa sociedade estiver naquilo que gera dinheiro e nada mais, então ninguém vai trabalhar sem que seja num emprego.
Com todo este 'blá blá blá' não quero dizer que a mim parece ou é fácil, mas que o que se deve enfrentar é maior do que a crise financeira ou o desemprego, é a crise existencial do ser humano e do sistema que ele criou e ao qual delegou o poder de reger sua vida, como se acionasse um piloto-automático.
segunda-feira, 30 de março de 2009
segunda-feira, 23 de março de 2009
Uma recomendação
Leiam em http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/marco2009/ju423_pag08a.php
Bióloga utiliza linhagens de fungos para biodegradação de garrafas PET
RAQUEL DO CARMO SANTOS
Bióloga utiliza linhagens de fungos para biodegradação de garrafas PET
RAQUEL DO CARMO SANTOS
sexta-feira, 20 de março de 2009
Culinária, o tempo e o relógio
Sempre que vamos à cozinha dispostos a preparar algo, nos munimos de receitas. Quero dizer, nem sempre. Mas vamos considerar as vezes que seguimos uma receita. Um dos aspectos deste ‘manual de fazer comida’ é o tempo para executar cada etapa da preparação, certo?
Pois é exatamente sobre isso que quero ‘falar’. Quando incorporamos as receitas à nossa memória pessoal, passamos a decorar o tempo de cada coisa, pela forma, pela cor, pela textura, pelo cheiro que apresenta etc.
Isso significa que culinária exige grande sensibilidade. É isso não é uma descoberta minha, com certeza.
Mas a reflexão é a seguinte: com esta sensibilidade aguçada, passamos a perceber mais detalhada e intensivamente o que nos rodeia, despertamos nossos sentidos para desfrutar do que aí está.
E isso nos faz pensar que o relógio como co-adjuvante de nossa vida moderna reduz nossas habilidades e nossa sensibilidade e unifica o ritmo de cada um, além claro de nos tornar frios e, muitas vezes, insensíveis. Quando a receita diz, asse por 40 min em forno a 180º, supostamente não precisamos nos preocupar com os cheiros, cores ou barulhos que venham a ocorrer.
Presos ao relógio, não respeitamos nosso tempo de viver cada momento e nos defrontamos com a necessidade de racionalizar instantes que são pura sensibilidade. E nos distanciamos da verdade mais autêntica de todas que é a nossa própria, sem comparações, sem julgamentos. Delegamos a uma máquina a função e o direito de controlar as nossas vidas e fazer delas um meio de legitimar a produtividade industrial, e criamos e usamos esta máquina no afã de viver mais em menos tempo de vida. Ou seja, otimizar o tempo que temos, mas negligenciar o nosso real aproveitamento.
Isto é bom ou é mau?
Temos em mente que devemos sempre fazer coisas boas. Ao menos é o que se prega explicitamente na sociedade em que vivemos. Mas o que é uma coisa boa?
Em verdade, depois da relatividade de Einstein, responder a esta pergunta ficou mais difícil, complexo. Porque é possível dar-se um exemplo e por diversos pontos de vista dizer que ele é bom ou é mau, e até mesmo seria possível estabelecer graus de bondade ou maldade para cada uma das definições.
Pois bem, esta complexidade existe, penso que apenas aqueles que se submetem a uma única doutrina, acreditando pia e cegamente nela, é que são capazes de simplificar esta realidade. E isto acontece tanto na religião, quanto na política, ou mesmo na ciência – como as teorias que limitam a possibilidade de conhecimento de um profissional.
A polaridade ou, em alguns casos, o maniqueísmo – bem e mal – é algo que se origina de nosso pensamento linear. Porque no sistema de pensamento cartesiano: ‘penso, logo existo’, concluímos que: ‘quando não penso, não existo’. Isto significa que não temos mais do que DUAS alternativas. Se algo funciona, ele é bom. Se algo não funciona, ele é ruim. René Decartes não previu que um relógio que não funcione mais possa ser um objeto de museu, ou talvez apenas uma imagem na mente de alguém, em sua memória, a representação de algo mais. O mecanismo do relógio pode não funcionar, mas ele tem outra função – ele é bom porque representa algo, ou ocupa um espaço na vida de alguém significativo. Podemos pensar inúmeras alternativas.
Parece-nos que a polaridade é algo físico que emerge do mundo palpável – o imã tem dois pólos, talvez haja variações as quais não têm função para nós ou que ainda não foram identificadas, sei lá (são hipóteses, mas nos permitem romper com o óbvio). Mas eu não acredito que as coisas simplesmente surjam naturalmente, afinal estamos o tempo todo fazendo interpretações e comparações do que ‘sentimos’ no ‘mundo real’ com o que criamos no ‘mundo imaginário’. É um diálogo. Nem uma ilusão. Nem um realismo naturalístico.
Portanto, a polaridade bem e mal não reflete a realidade complexa repleta de nuances em que estamos inseridos e, inclusive, na qual acredito haja dimensões as quais não acessamos, ao menos não conscientemente.
Ainda assim, temos que compreender que a linearidade traduz o que representa a nossa capacidade mental e sensitiva hoje. Embora vivamos num mundo multimidiático, podemos ouvir uma música e escrever sobre assunto desconexo dela ao mesmo tempo, mas não podemos dizer duas palavras simultaneamente, nossa constituição física não permitiria. É claro que existem as exceções e estes casos devem ser estudados, mas tomemos como parâmetro a maioria dos seres humanos hoje.
De qualquer maneira, ainda que nossa percepção nos dê a oportunidade de ver apenas dois pólos – positivo ou negativo – no ‘mundo real’, é importante lembrar que seja qual for o ponto de vista, o bom e o ruim sempre estarão presentes ao mesmo tempo, e o que nos permite dizer que algo é bom ou é ruim é tão somente nossa percepção e nossa imaginação – portanto, as expectativas, os valores, a história, as memórias, as doutrinas, os dogmas, as crenças etc. – sobre este ‘algo’.
Em verdade, depois da relatividade de Einstein, responder a esta pergunta ficou mais difícil, complexo. Porque é possível dar-se um exemplo e por diversos pontos de vista dizer que ele é bom ou é mau, e até mesmo seria possível estabelecer graus de bondade ou maldade para cada uma das definições.
Pois bem, esta complexidade existe, penso que apenas aqueles que se submetem a uma única doutrina, acreditando pia e cegamente nela, é que são capazes de simplificar esta realidade. E isto acontece tanto na religião, quanto na política, ou mesmo na ciência – como as teorias que limitam a possibilidade de conhecimento de um profissional.
A polaridade ou, em alguns casos, o maniqueísmo – bem e mal – é algo que se origina de nosso pensamento linear. Porque no sistema de pensamento cartesiano: ‘penso, logo existo’, concluímos que: ‘quando não penso, não existo’. Isto significa que não temos mais do que DUAS alternativas. Se algo funciona, ele é bom. Se algo não funciona, ele é ruim. René Decartes não previu que um relógio que não funcione mais possa ser um objeto de museu, ou talvez apenas uma imagem na mente de alguém, em sua memória, a representação de algo mais. O mecanismo do relógio pode não funcionar, mas ele tem outra função – ele é bom porque representa algo, ou ocupa um espaço na vida de alguém significativo. Podemos pensar inúmeras alternativas.
Parece-nos que a polaridade é algo físico que emerge do mundo palpável – o imã tem dois pólos, talvez haja variações as quais não têm função para nós ou que ainda não foram identificadas, sei lá (são hipóteses, mas nos permitem romper com o óbvio). Mas eu não acredito que as coisas simplesmente surjam naturalmente, afinal estamos o tempo todo fazendo interpretações e comparações do que ‘sentimos’ no ‘mundo real’ com o que criamos no ‘mundo imaginário’. É um diálogo. Nem uma ilusão. Nem um realismo naturalístico.
Portanto, a polaridade bem e mal não reflete a realidade complexa repleta de nuances em que estamos inseridos e, inclusive, na qual acredito haja dimensões as quais não acessamos, ao menos não conscientemente.
Ainda assim, temos que compreender que a linearidade traduz o que representa a nossa capacidade mental e sensitiva hoje. Embora vivamos num mundo multimidiático, podemos ouvir uma música e escrever sobre assunto desconexo dela ao mesmo tempo, mas não podemos dizer duas palavras simultaneamente, nossa constituição física não permitiria. É claro que existem as exceções e estes casos devem ser estudados, mas tomemos como parâmetro a maioria dos seres humanos hoje.
De qualquer maneira, ainda que nossa percepção nos dê a oportunidade de ver apenas dois pólos – positivo ou negativo – no ‘mundo real’, é importante lembrar que seja qual for o ponto de vista, o bom e o ruim sempre estarão presentes ao mesmo tempo, e o que nos permite dizer que algo é bom ou é ruim é tão somente nossa percepção e nossa imaginação – portanto, as expectativas, os valores, a história, as memórias, as doutrinas, os dogmas, as crenças etc. – sobre este ‘algo’.
A sustentabilidade e o egoísmo da humanidade
Quando discutimos sustentabilidade, estamos sempre relacionando-a com temas e aspectos aos quais aplicados este conceito nos garantiram recursos e uma vida melhor para a geração atual e as demais que se seguirão. Mas é importante lembrar que o primeiro fator responsável por desequilíbrio do ecossistema terrestre diz respeito à proliferação do homem, como espécie de alta produtividade e o qual não tem predador à altura a não ser os próprios fenômenos naturais resultado de sua atuação de degradação da natureza.
Portanto, quando queremos garantir recursos às gerações não estamos pensando nas gerações de pássaros, plantas etc., ainda que não chamemos assim. Se bem refletido, esta afirmação que acabo de fazer significa dizer que o homem quer continuar proliferando sua espécie, ainda que o crescente demográfico signifique as irregularidades que o sistema natural vem apresentando, algumas bem evidentes, outras ocultas, silenciosas e vagarosas.
Esta atitude continua sendo egoísta frente às demais espécies. Entretanto, acredito que, aos poucos, vamos tomando consciência do quão arraigados estamos ao estilo de vida que criamos, tanto que usamos a mesma lógica que ameaça a vida no planeta para falar sobre um novo estilo de vida necessário para a sustentabilidade tão desejada, ou ao menos, aparentemente objetivada.
quinta-feira, 19 de março de 2009
Lavar ou reciclar, eis a questão
Ultimamente, diversos amigos têm trazido à tona uma questão aparentemente paradoxal, mas em voga: “É melhor usar copos de plástico descartáveis, que geram um acúmulo de lixo a ser reciclado (um novo processo ‘produtivo’ que usará novos recursos naturais) ou usar copos de vidro, que serão lavados inúmeras vezes por longo período, provocando contínuo descarte de resíduos à natureza, mas menos lixo a custo prazo?
Diante de algumas visões ecológicas, entre elas a de 'ecologia profunda' de Fritjof Capra e a de 'ecoefetividade invés de ecoeficiência' dos autores William McDonough & Michael Braungart (livro "Cradle to cradle" - Remaking the Way We Make Things), pode-se dizer que o ideal é pensar em todo o processo, toda a cadeia produtiva e não apenas no produto. É uma reflexão árdua, mas necessária, que muitas empresas já fazem principalmente frente a outros indicadores do processo produtivo e comercial, mas que diante dos indicadores da sustentabilidade, ainda não têm parâmetros muito certos. E, portanto, nem mesmo os têm os consumidores.
E como pensar o processo?
Comecemos pelo copo de plástico. Para ser produzido, a fábrica de copos de plástico deve desenvolver um planejamento em que definirá o tipo de material, que tipo de polímero será usado na confecção do produto final. Neste mesmo momento, é preciso decidir o design do copo e até mesmo seu tamanho, mas não apenas do ponto de vista do mercado ou da concorrência, ou dos custos financeiros, é preciso pensar que o tamanho e a espessura do copo irá definir o volume de material utilizado e depois descartado/reciclado e o grau de desperdício inerente a ele. Se o copo é muito grande e fino, sua resistência é menor e torna-se mais vunerável a rachaduras, o que exige que se use mais de um copo ou que se descarte logo um para usar outro.
Além disso, é preciso pensar quais são os resíduos químicos - que serão despejados no ar, no solo e água - gerados neste processo produtivo, inclusive considerando o processo de produção dos fornecedores das matérias-primas - sejam elas principais ou secundárias na fabricação. É necessário, ainda, avaliar se estas matérias-primas permitirão que o plástico seja reciclado sem maiores danos ao meio ambiente - pelo processo de reciclagem - ou para a saúde humana - dependendo do seu uso (novos copos, garrafas, roupas etc.).
Cada decisão no momento de desenvolvimento do produto será crucial para definir o seu grau de sustentabilidade. Inclusive a estrutura arquitetônica e do maquinário da empresa influencia no maior ou menor impacto da produção ao meio ambiente - maior ou menor desperdício e maior ou menor despejo de resíduos ou mesmo de maneira mais ou menos prejudicial.
Continuando, imaginemos que além do processo produtivo, haverá que pensar no tipo de transporte e combustível utilizado para distribuir este produto, fazê-lo chegar às prateleiras das lojas e finalmente no ambiente onde será 'consumido'. É importante lembrar que se o copo de plástico atender a todos os requisitos para ser um produto sustentável em sua produção, ele deverá fazê-lo inclusive no processo de separação, recolhimento, transporte, lavagem etc. do copo usado a ser reciclado. Entretanto, é importante lembrar que os consumidores e cooperativas os quais muitas vezes assumem a responsabilidade pela maior parte do processo de reciclagem, não estão tão preparados nem fiscalizados quanto a empresa que produziu o copo pela primeira vez.
Antes de concluir, pensemos, agora, sobre o processo do copo de vidro. Todas as etapas de desenvolvimento, desde a estrutura de fabricação, do produto, dos fornecedores e da distribuição são similares à do copo de plástico, com variações de ordem técnica e de impacto de um ou de outro e dependendo, é claro, da sua finalidade de uso. É importante lembrar que o vidro também poderá passar por um processo de reciclagem, mas isto ocorrerá provavelmente mais tarde em relação à sua produção do que o copo de plástico - descartado logo após seu uso (consideremos aqui o comportamento normal e não as exceções).
Neste momento, é importante que tomemos como parâmetro um usuário comum para estes dois produtos - um indivíduo, consumidor final, que combina o uso de copos de vidro no seu dia-a-dia e os copos descartáveis de plástico, em festas de aniversário, por exemplo. Neste caso, ele se pergunta se deve adotar o copo de plástico no dia-a-dia, porque este pode ser reciclado e não precisa ser lavado, ou se adota o copo de vidro, que não precisará ser descartado, nas festas de aniversário.
Bem, se este usuário adotar os copos de plástico no dia-a-dia, ele terá um acúmulo de lixo maior ao final do dia, mas ao separar o lixo poderá disponibilizar o material para reciclagem. Considerando um ambiente ideal, em que a coleta seletiva é feita regularmente e que este lixo recolhido é efetivamente levado a cooperativas de reciclagem, o que ocorrerá é que este material junto a outros similares passará por um processo que usará recursos naturais como água - para a lavagem - e a energia elétrica - para a homogeneização da massa em nova matéria-prima, entre outros, até que se direcione a um novo processo de fabricação. No entanto, é preciso lembrar que haverá não só copos usados, mas uma infinidade de outras embalagens de plástico envoltas em outros materiais ou tintas, os quais não serão necessariamente eliminados antes da homogeneização. Disto o resultado é uma massa que pode não ser própria para o contato com o corpo humano ou com alimentos. Mas, se o material for apenas dos copos feitos com materiais passíveis de reciclagem sem prejuízo para a saúde ou meio ambiente, então, ao fim do processo poderemos ter novos copos descartáveis reciclados. Mas também é importante ressaltar que no primeiro processo de produção, os engenheiros tiveram que escolher um plástico que pudesse ser eternamente reciclado com a mesma qualidade, caso contrário a qualidade do produto reciclado seria pior, além de ter gasto mais recursos naturais para serem fabricados e despejar resíduos no ambiente.
E, se este usuário escolhesse o copo de vidro para as festas de aniversário. Certamente, não haveria o conforto de descartá-lo. Alguém haveria de lavá-los, para o que utilizaria água e algum tipo de sabão ou detergente. Mas, ao fim do dia, não haveria o mesmo volume de lixo do plástico, embora haja o inconveniente do descarte quando o vidro quebra - o que infelizmente pode causar acidentes para o usuário ou mesmo para os lixeiros - já que não existe ainda uma forma padronizada, caseira mas segura de descartar o vidro quebrado. De qualquer maneira, este seria um caso esporádico, no geral a maioria dos copos 'sobreviveriam' à comemoração sem causar incidentes ou acidentes.
Diante destas duas situações, não me arrisco a fazer os cálculos matemáticos ou estatísticos para saber a quantidade de água utilizada em um processo ou outro ou mesmo a quantidade de detergente, ou a quantidade de energia elétrica etc. para definir a ecoeficiência (termo usado e criticado por MCDonough e Braungart) de cada um. Mas, ouso dizer como jornalista interessada, curiosa e mera principiante no estudo da sustentabilidade, que não basta ao usuário - neste caso 'amigos' como citei - escolher qual copo usar, mas conhecer todo o processo da extração das matérias-primas até a produção de um produto reciclado ou seu descarte, e a rever seus próprios procedimentos e hábitos, como parece ser a tendência do comportamento do consumidor numa sociedade em que o setor privado e as ONGs assumem cada vez mais as responsabilidades sócio-ambientais e as tornam visíveis em sua comunicação - seja no produto em si, na embalagem, ou nas ações que praticam junto a seus stakeholders.
Então, por fim, eu responderia a estes meus 'amigos': "Consumam e usem um tipo ou outro de copo, mas não o façam indiscriminadamente. Se a preocupação existe, é importante usá-la como motivação para selecionar melhor o que se consome, além de se reduzir o consumo, e isso com relação a todos os produtos e recursos. No caso do copo, o usuário deverá escolher o copo, o detergente, a água - a procedência deles e como serão usados, reusados, reciclados e descartados. Em resumo, a resposta é pensar no processo como um todo e não de maneira fragmentada, porque a ecologia não se faz de um aglomerado de fragmentos, mas de um todo que existe por suas conexões saudáveis e, poderíamos dizer, sustentáveis. E, como cada decisão das empresas é essencial para respeitar a saúde destas conexões também são as decisões do consumidor e/ou usuário."
Diante de algumas visões ecológicas, entre elas a de 'ecologia profunda' de Fritjof Capra e a de 'ecoefetividade invés de ecoeficiência' dos autores William McDonough & Michael Braungart (livro "Cradle to cradle" - Remaking the Way We Make Things), pode-se dizer que o ideal é pensar em todo o processo, toda a cadeia produtiva e não apenas no produto. É uma reflexão árdua, mas necessária, que muitas empresas já fazem principalmente frente a outros indicadores do processo produtivo e comercial, mas que diante dos indicadores da sustentabilidade, ainda não têm parâmetros muito certos. E, portanto, nem mesmo os têm os consumidores.
E como pensar o processo?
Comecemos pelo copo de plástico. Para ser produzido, a fábrica de copos de plástico deve desenvolver um planejamento em que definirá o tipo de material, que tipo de polímero será usado na confecção do produto final. Neste mesmo momento, é preciso decidir o design do copo e até mesmo seu tamanho, mas não apenas do ponto de vista do mercado ou da concorrência, ou dos custos financeiros, é preciso pensar que o tamanho e a espessura do copo irá definir o volume de material utilizado e depois descartado/reciclado e o grau de desperdício inerente a ele. Se o copo é muito grande e fino, sua resistência é menor e torna-se mais vunerável a rachaduras, o que exige que se use mais de um copo ou que se descarte logo um para usar outro.
Além disso, é preciso pensar quais são os resíduos químicos - que serão despejados no ar, no solo e água - gerados neste processo produtivo, inclusive considerando o processo de produção dos fornecedores das matérias-primas - sejam elas principais ou secundárias na fabricação. É necessário, ainda, avaliar se estas matérias-primas permitirão que o plástico seja reciclado sem maiores danos ao meio ambiente - pelo processo de reciclagem - ou para a saúde humana - dependendo do seu uso (novos copos, garrafas, roupas etc.).
Cada decisão no momento de desenvolvimento do produto será crucial para definir o seu grau de sustentabilidade. Inclusive a estrutura arquitetônica e do maquinário da empresa influencia no maior ou menor impacto da produção ao meio ambiente - maior ou menor desperdício e maior ou menor despejo de resíduos ou mesmo de maneira mais ou menos prejudicial.
Continuando, imaginemos que além do processo produtivo, haverá que pensar no tipo de transporte e combustível utilizado para distribuir este produto, fazê-lo chegar às prateleiras das lojas e finalmente no ambiente onde será 'consumido'. É importante lembrar que se o copo de plástico atender a todos os requisitos para ser um produto sustentável em sua produção, ele deverá fazê-lo inclusive no processo de separação, recolhimento, transporte, lavagem etc. do copo usado a ser reciclado. Entretanto, é importante lembrar que os consumidores e cooperativas os quais muitas vezes assumem a responsabilidade pela maior parte do processo de reciclagem, não estão tão preparados nem fiscalizados quanto a empresa que produziu o copo pela primeira vez.
Antes de concluir, pensemos, agora, sobre o processo do copo de vidro. Todas as etapas de desenvolvimento, desde a estrutura de fabricação, do produto, dos fornecedores e da distribuição são similares à do copo de plástico, com variações de ordem técnica e de impacto de um ou de outro e dependendo, é claro, da sua finalidade de uso. É importante lembrar que o vidro também poderá passar por um processo de reciclagem, mas isto ocorrerá provavelmente mais tarde em relação à sua produção do que o copo de plástico - descartado logo após seu uso (consideremos aqui o comportamento normal e não as exceções).
Neste momento, é importante que tomemos como parâmetro um usuário comum para estes dois produtos - um indivíduo, consumidor final, que combina o uso de copos de vidro no seu dia-a-dia e os copos descartáveis de plástico, em festas de aniversário, por exemplo. Neste caso, ele se pergunta se deve adotar o copo de plástico no dia-a-dia, porque este pode ser reciclado e não precisa ser lavado, ou se adota o copo de vidro, que não precisará ser descartado, nas festas de aniversário.
Bem, se este usuário adotar os copos de plástico no dia-a-dia, ele terá um acúmulo de lixo maior ao final do dia, mas ao separar o lixo poderá disponibilizar o material para reciclagem. Considerando um ambiente ideal, em que a coleta seletiva é feita regularmente e que este lixo recolhido é efetivamente levado a cooperativas de reciclagem, o que ocorrerá é que este material junto a outros similares passará por um processo que usará recursos naturais como água - para a lavagem - e a energia elétrica - para a homogeneização da massa em nova matéria-prima, entre outros, até que se direcione a um novo processo de fabricação. No entanto, é preciso lembrar que haverá não só copos usados, mas uma infinidade de outras embalagens de plástico envoltas em outros materiais ou tintas, os quais não serão necessariamente eliminados antes da homogeneização. Disto o resultado é uma massa que pode não ser própria para o contato com o corpo humano ou com alimentos. Mas, se o material for apenas dos copos feitos com materiais passíveis de reciclagem sem prejuízo para a saúde ou meio ambiente, então, ao fim do processo poderemos ter novos copos descartáveis reciclados. Mas também é importante ressaltar que no primeiro processo de produção, os engenheiros tiveram que escolher um plástico que pudesse ser eternamente reciclado com a mesma qualidade, caso contrário a qualidade do produto reciclado seria pior, além de ter gasto mais recursos naturais para serem fabricados e despejar resíduos no ambiente.
E, se este usuário escolhesse o copo de vidro para as festas de aniversário. Certamente, não haveria o conforto de descartá-lo. Alguém haveria de lavá-los, para o que utilizaria água e algum tipo de sabão ou detergente. Mas, ao fim do dia, não haveria o mesmo volume de lixo do plástico, embora haja o inconveniente do descarte quando o vidro quebra - o que infelizmente pode causar acidentes para o usuário ou mesmo para os lixeiros - já que não existe ainda uma forma padronizada, caseira mas segura de descartar o vidro quebrado. De qualquer maneira, este seria um caso esporádico, no geral a maioria dos copos 'sobreviveriam' à comemoração sem causar incidentes ou acidentes.
Diante destas duas situações, não me arrisco a fazer os cálculos matemáticos ou estatísticos para saber a quantidade de água utilizada em um processo ou outro ou mesmo a quantidade de detergente, ou a quantidade de energia elétrica etc. para definir a ecoeficiência (termo usado e criticado por MCDonough e Braungart) de cada um. Mas, ouso dizer como jornalista interessada, curiosa e mera principiante no estudo da sustentabilidade, que não basta ao usuário - neste caso 'amigos' como citei - escolher qual copo usar, mas conhecer todo o processo da extração das matérias-primas até a produção de um produto reciclado ou seu descarte, e a rever seus próprios procedimentos e hábitos, como parece ser a tendência do comportamento do consumidor numa sociedade em que o setor privado e as ONGs assumem cada vez mais as responsabilidades sócio-ambientais e as tornam visíveis em sua comunicação - seja no produto em si, na embalagem, ou nas ações que praticam junto a seus stakeholders.
Então, por fim, eu responderia a estes meus 'amigos': "Consumam e usem um tipo ou outro de copo, mas não o façam indiscriminadamente. Se a preocupação existe, é importante usá-la como motivação para selecionar melhor o que se consome, além de se reduzir o consumo, e isso com relação a todos os produtos e recursos. No caso do copo, o usuário deverá escolher o copo, o detergente, a água - a procedência deles e como serão usados, reusados, reciclados e descartados. Em resumo, a resposta é pensar no processo como um todo e não de maneira fragmentada, porque a ecologia não se faz de um aglomerado de fragmentos, mas de um todo que existe por suas conexões saudáveis e, poderíamos dizer, sustentáveis. E, como cada decisão das empresas é essencial para respeitar a saúde destas conexões também são as decisões do consumidor e/ou usuário."
Filosofia da sustentabilidade
Foto: Aline (eu mesmo)
Para falar de sustentabilidade, é curioso e interessante buscar a origem do conceito e a etimologia das palavras que lhe dão suporte. Só então poderemos chegar a uma definição prática mais adequada de sustentabilidade, que não seja superficial ou hipócrita. É importante dizer que somos os responsáveis de qualquer maneira e que a mudança de hábitos é o que há de mais essencial nesta concepção e a mais difícil de praticar.
A origem do conceito pode ser encontrada na internet. Buscando, encontrei o seguinte texto: “O conceito foi introduzido no início da década de 1980 por Lester Brown, fundador do Wordwatch Institute, que definiu comunidade sustentável como a que é capaz de satisfazer às próprias necessidades sem reduzir as oportunidades das gerações futuras.” (CAPRA in TRIGUEIRO, 2005, 19). É a propriedade de um processo que, além de continuar a existir no tempo, revela-se capaz de: (a) manter padrão positivo de qualidade, (b) apresentar, no menor espaço de tempo possível, autonomia de manutenção (contar com suas próprias forças), © pertencer simbioticamente a uma rede de coadjuvantes também sustentáveis e (d) promover a dissipação de estratégias e resultados, em detrimento de qualquer tipo de concentração e/ou centralidade, tendo em vista a harmonia das relações sociedade-natureza.” (fonte: http://www.sustentabilidade.org.br/)
Sem usar a palavra “sustentabilidade”, Fritjof Capra já descreve este conceito em seu livro O Ponto de Mutação, editado também em 80. Nesta obra, Capra apresenta a concepção ou visão sistêmica do mundo. Ele apresenta uma perspectiva ecológica contraposta ao sistema fragmentário que dá suporte ao mundo moderno do fim do século XX e início do XXI.
Capra ressalta a obsessão da sociedade capitalista pelo crescimento, investindo em tecnologia pesada, estimulando o consumo perdulário e a exploração rápida dos recursos naturais. Estes seriam alguns dos fatores responsáveis por provocar os desastres e catástrofes naturais de repercussão no mundo social, além dos problemas sistêmicos nos âmbitos econômico, político etc.
A idéia de crescimento contínuo e progressivo reflete um pensamento cartesiano (René Descartes), em que há uma única direção a se seguir e a partir da qual para cada causa existe um efeito, reduzindo a ‘teia complexa de interdependências’ que constitui o ecossistema – em que o homem está inserido – a um único fio condutor, linear e simples.
O conceito de sustentabilidade está diretamente ligado ao da ‘teia complexa de interdependências’, porque representa a capacidade de transformação (inerente à natureza) aplicada à cultura humana. Ser sustentável significa reconhecer que a realidade é um processo contínuo e sistêmico (não-linear), no qual as relações (sociais, naturais e sócio-ambientais) ocorrem tanto simultaneamente quanto subseqüentemente e que cada parte tem, inevitavelmente, responsabilidade nesse processo. Este é o padrão existente na natureza: a ecologia (não no sentido do estudo do habitat e de seus ‘moradores’, mas como a lógica de interdependência entre os seres e recursos que convivem em determinado ambiente).
Na cultura humana, para ser sustentável é necessário que se respeite esta mesma regra: a transformação. Só quando existe uma proposta sistêmica dinâmica, e pessoas dispostas às mudanças, é que é possível manter a vida de maneira saudável ao longo de muitos anos e gerações.
O termo manter é uma das definições possíveis à palavra ‘sustentar’, que dá suporte ao conceito de sustentabilidade. Mas é importante utilizá-lo de forma adequada, já que para manter, neste caso, ou sustentar, é preciso transformar. Não há formas de mantermos a estrutura, o comportamento e o pensamento que se tem hoje e garantir a sustentabilidade. Um ecossistema só é sustentável porque os seres e recursos que o compõem trocam energia e matéria em ciclos contínuos, transformam-se frequentemente, não permitindo que haja desequilíbrio duradouro o bastante para causar seu colapso.
As demais definições de sustentar, como suportar, amparar, nutrir, fortificar, não deixam de ter o mesmo significado que manter, desde que compreendido o seu uso devido. Caso contrário, sustentabilidade seria sinônimo da habilidade de manter a sociedade que aí está (como está), em processo lento ou rápido e contínuo de degradação da vida.
Quando Capra sugere uma visão sistêmica e não-linear da realidade, fundamenta-se na teoria quântica, que vai nos levar à teoria do caos. Em seu livro Caos, a criação de uma nova ciência, James Gleick apresenta, em um dos capítulos, os fatos que deram origem ao termo ‘Efeito Borboleta’ – tão reproduzido, e até representado em roteiro de cinema.
A teoria do caos vem ao encontro da concepção sistêmica de que fala Capra e sua descrição reforça a existência de uma ‘teia complexa de interdependências’, na qual pequenas mudanças geram uma cadeia de acontecimentos que podem provocar mudanças maiores e significativas.
Isso mostra o quão inter-relacionados estamos com todos os seres e os recursos naturais essenciais à vida e como cada um de nós tem responsabilidade no processo como um todo.
O ‘efeito borboleta’ em si surgiu provavelmente do artigo ‘Predictability: Does the flap of a butterfly’s wings in Brazil set off a tornado in Texas?” (Previsibilidade: Poderia o bater de asas de uma borboleta no Brasil causar um tornado no Texas?), resultado de uma pesquisa que Edward Lorenz desenvolveu. No laboratório em que trabalhava, ele tinha um novo computador eletrônico que simulava condições atmosféricas. Não vou entrar em detalhes, mas o importante é dizer que ele identificou que ao inserir pela segunda vez os dados originais de uma simulação das condições climáticas, ocorria uma pequena variação do primeiro para o segundo gráfico impresso.
Considerando que os dados inseridos eram os mesmos na primeira e na segunda inserção, os gráficos deveriam ser idênticos, o que não ocorria. Ao longo das repetições, ele notou que as variações iam aumentando até que toda a semelhança com a forma original do gráfico desaparecesse. Isso nos permite crer que pequenas mudanças podem ter efeitos catastróficos ao longo do tempo e do espaço.
Por fim, gostaria de exemplificar a aplicação do conceito da ‘teia complexa’ a uma situação socialmente representativa, descrita no livro Freakonomics, de Steven D. Levitt e Stephen J. Dubner.
Os autores descrevem os fatores porque houve a redução de crimes em determinado estado dos Estados Unidos. Aparentemente, isso havia ocorrido pelo aumento de efetivo policial, mas, por fim, revela-se que a redução de crimes havia ocorrido mais significativamente por uma causa legal ganha em outro estado, por uma mulher pobre, que pedia o direito de abortar para aquelas que engravidassem e não tivessem condições financeiras para criar, alimentar e sustentar os filhos. Causa ganha, o número de delinqüentes, supostamente filhos destas mulheres pobres, caiu, e com ele o índice de crimes.
Isso mostra que existem inúmeras causas para um mesmo efeito e vice-versa (uma causa para inúmeros efeitos). Há uma complexidade de eventos simultâneos e subseqüentes que influenciam direta ou indiretamente, em maior ou menor grau, eventos outros, de proporções similares, maiores ou menores.
A partir destes esclarecimentos, convido-os a pensarem a sustentabilidade como algo complexo que está e continuará exigindo um esforço de mudança e transformação além do que temos feito hoje, ao executar ações fragmentadas, embora repletas de boa intenção e coerentes à manutenção dos negócios e do conforto que o sistema atual parece proporcionar.
A origem do conceito pode ser encontrada na internet. Buscando, encontrei o seguinte texto: “O conceito foi introduzido no início da década de 1980 por Lester Brown, fundador do Wordwatch Institute, que definiu comunidade sustentável como a que é capaz de satisfazer às próprias necessidades sem reduzir as oportunidades das gerações futuras.” (CAPRA in TRIGUEIRO, 2005, 19). É a propriedade de um processo que, além de continuar a existir no tempo, revela-se capaz de: (a) manter padrão positivo de qualidade, (b) apresentar, no menor espaço de tempo possível, autonomia de manutenção (contar com suas próprias forças), © pertencer simbioticamente a uma rede de coadjuvantes também sustentáveis e (d) promover a dissipação de estratégias e resultados, em detrimento de qualquer tipo de concentração e/ou centralidade, tendo em vista a harmonia das relações sociedade-natureza.” (fonte: http://www.sustentabilidade.org.br/)
Sem usar a palavra “sustentabilidade”, Fritjof Capra já descreve este conceito em seu livro O Ponto de Mutação, editado também em 80. Nesta obra, Capra apresenta a concepção ou visão sistêmica do mundo. Ele apresenta uma perspectiva ecológica contraposta ao sistema fragmentário que dá suporte ao mundo moderno do fim do século XX e início do XXI.
Capra ressalta a obsessão da sociedade capitalista pelo crescimento, investindo em tecnologia pesada, estimulando o consumo perdulário e a exploração rápida dos recursos naturais. Estes seriam alguns dos fatores responsáveis por provocar os desastres e catástrofes naturais de repercussão no mundo social, além dos problemas sistêmicos nos âmbitos econômico, político etc.
A idéia de crescimento contínuo e progressivo reflete um pensamento cartesiano (René Descartes), em que há uma única direção a se seguir e a partir da qual para cada causa existe um efeito, reduzindo a ‘teia complexa de interdependências’ que constitui o ecossistema – em que o homem está inserido – a um único fio condutor, linear e simples.
O conceito de sustentabilidade está diretamente ligado ao da ‘teia complexa de interdependências’, porque representa a capacidade de transformação (inerente à natureza) aplicada à cultura humana. Ser sustentável significa reconhecer que a realidade é um processo contínuo e sistêmico (não-linear), no qual as relações (sociais, naturais e sócio-ambientais) ocorrem tanto simultaneamente quanto subseqüentemente e que cada parte tem, inevitavelmente, responsabilidade nesse processo. Este é o padrão existente na natureza: a ecologia (não no sentido do estudo do habitat e de seus ‘moradores’, mas como a lógica de interdependência entre os seres e recursos que convivem em determinado ambiente).
Na cultura humana, para ser sustentável é necessário que se respeite esta mesma regra: a transformação. Só quando existe uma proposta sistêmica dinâmica, e pessoas dispostas às mudanças, é que é possível manter a vida de maneira saudável ao longo de muitos anos e gerações.
O termo manter é uma das definições possíveis à palavra ‘sustentar’, que dá suporte ao conceito de sustentabilidade. Mas é importante utilizá-lo de forma adequada, já que para manter, neste caso, ou sustentar, é preciso transformar. Não há formas de mantermos a estrutura, o comportamento e o pensamento que se tem hoje e garantir a sustentabilidade. Um ecossistema só é sustentável porque os seres e recursos que o compõem trocam energia e matéria em ciclos contínuos, transformam-se frequentemente, não permitindo que haja desequilíbrio duradouro o bastante para causar seu colapso.
As demais definições de sustentar, como suportar, amparar, nutrir, fortificar, não deixam de ter o mesmo significado que manter, desde que compreendido o seu uso devido. Caso contrário, sustentabilidade seria sinônimo da habilidade de manter a sociedade que aí está (como está), em processo lento ou rápido e contínuo de degradação da vida.
Quando Capra sugere uma visão sistêmica e não-linear da realidade, fundamenta-se na teoria quântica, que vai nos levar à teoria do caos. Em seu livro Caos, a criação de uma nova ciência, James Gleick apresenta, em um dos capítulos, os fatos que deram origem ao termo ‘Efeito Borboleta’ – tão reproduzido, e até representado em roteiro de cinema.
A teoria do caos vem ao encontro da concepção sistêmica de que fala Capra e sua descrição reforça a existência de uma ‘teia complexa de interdependências’, na qual pequenas mudanças geram uma cadeia de acontecimentos que podem provocar mudanças maiores e significativas.
Isso mostra o quão inter-relacionados estamos com todos os seres e os recursos naturais essenciais à vida e como cada um de nós tem responsabilidade no processo como um todo.
O ‘efeito borboleta’ em si surgiu provavelmente do artigo ‘Predictability: Does the flap of a butterfly’s wings in Brazil set off a tornado in Texas?” (Previsibilidade: Poderia o bater de asas de uma borboleta no Brasil causar um tornado no Texas?), resultado de uma pesquisa que Edward Lorenz desenvolveu. No laboratório em que trabalhava, ele tinha um novo computador eletrônico que simulava condições atmosféricas. Não vou entrar em detalhes, mas o importante é dizer que ele identificou que ao inserir pela segunda vez os dados originais de uma simulação das condições climáticas, ocorria uma pequena variação do primeiro para o segundo gráfico impresso.
Considerando que os dados inseridos eram os mesmos na primeira e na segunda inserção, os gráficos deveriam ser idênticos, o que não ocorria. Ao longo das repetições, ele notou que as variações iam aumentando até que toda a semelhança com a forma original do gráfico desaparecesse. Isso nos permite crer que pequenas mudanças podem ter efeitos catastróficos ao longo do tempo e do espaço.
Por fim, gostaria de exemplificar a aplicação do conceito da ‘teia complexa’ a uma situação socialmente representativa, descrita no livro Freakonomics, de Steven D. Levitt e Stephen J. Dubner.
Os autores descrevem os fatores porque houve a redução de crimes em determinado estado dos Estados Unidos. Aparentemente, isso havia ocorrido pelo aumento de efetivo policial, mas, por fim, revela-se que a redução de crimes havia ocorrido mais significativamente por uma causa legal ganha em outro estado, por uma mulher pobre, que pedia o direito de abortar para aquelas que engravidassem e não tivessem condições financeiras para criar, alimentar e sustentar os filhos. Causa ganha, o número de delinqüentes, supostamente filhos destas mulheres pobres, caiu, e com ele o índice de crimes.
Isso mostra que existem inúmeras causas para um mesmo efeito e vice-versa (uma causa para inúmeros efeitos). Há uma complexidade de eventos simultâneos e subseqüentes que influenciam direta ou indiretamente, em maior ou menor grau, eventos outros, de proporções similares, maiores ou menores.
A partir destes esclarecimentos, convido-os a pensarem a sustentabilidade como algo complexo que está e continuará exigindo um esforço de mudança e transformação além do que temos feito hoje, ao executar ações fragmentadas, embora repletas de boa intenção e coerentes à manutenção dos negócios e do conforto que o sistema atual parece proporcionar.
quinta-feira, 12 de março de 2009
Escrever e dançar para si
Confesso que ultimamente não tenho tido nem muita inspiração nem muito tempo para escrever aqui, dado o número de atividades outras.
Mas é importante dizer que continuo escrevendo.
Existem duas grandes paixões que são distintas mas que representam a importância de fazermos as coisas por nós mesmos. Quero dizer, escrever e dançar.
Nós jornalistas estamos acostumados a escrever para os outros. A visão do leitor sempre está em nossa mente, antes de iniciarmos a escrita. E, hoje, a ausência de tempo para releituras como no passado, exige que o texto do jornalista seja um texto final, de editor. Ao mesmo tempo que comercialmente é importante e poderíamos até dizer 'didaticamente falando' - sem a intenção de profanar o termo - é importante visualizar o leitor, porque o jornalista escreve para o interesse público e, portanto, tem que vislumbrar o leitor.
Mas, quando encontramos a escrita livre, como esta, sem o compromisso de direcionamento, sentido ou sem limite de espaço, encontramos a oportunidade de escrevermos para nós mesmos. Pode ser para organizar o pensamento, para expressar uma emoção, para revelar uma descoberta, para compartilhar momentos vividos, para descobrirmos a nós mesmos.
E, assim como escrever tem esta riqueza, dançar também tem estes dois vieses. Dancei ballet clássico e moderno - com apresentações e etc. - por cerca de 16 anos. E nestes anos a maior preocupação era figurino, maquiagem, técnica, tudo para atender às expectativas de um público e/ou de um jurado, para obter reconhecimento e glória - embora às vezes ocorria o contrário.
Mas os momentos em que dançava para mim, as improvisações, os momentos em que ainda danço, é quando realmente sinto a música penetrar as células e movimentar o que há de mais essencial em mim e me transformar de homo sapiens - ereto e bípede - em instrumento de arte.
Mas é importante dizer que continuo escrevendo.
Existem duas grandes paixões que são distintas mas que representam a importância de fazermos as coisas por nós mesmos. Quero dizer, escrever e dançar.
Nós jornalistas estamos acostumados a escrever para os outros. A visão do leitor sempre está em nossa mente, antes de iniciarmos a escrita. E, hoje, a ausência de tempo para releituras como no passado, exige que o texto do jornalista seja um texto final, de editor. Ao mesmo tempo que comercialmente é importante e poderíamos até dizer 'didaticamente falando' - sem a intenção de profanar o termo - é importante visualizar o leitor, porque o jornalista escreve para o interesse público e, portanto, tem que vislumbrar o leitor.
Mas, quando encontramos a escrita livre, como esta, sem o compromisso de direcionamento, sentido ou sem limite de espaço, encontramos a oportunidade de escrevermos para nós mesmos. Pode ser para organizar o pensamento, para expressar uma emoção, para revelar uma descoberta, para compartilhar momentos vividos, para descobrirmos a nós mesmos.
E, assim como escrever tem esta riqueza, dançar também tem estes dois vieses. Dancei ballet clássico e moderno - com apresentações e etc. - por cerca de 16 anos. E nestes anos a maior preocupação era figurino, maquiagem, técnica, tudo para atender às expectativas de um público e/ou de um jurado, para obter reconhecimento e glória - embora às vezes ocorria o contrário.
Mas os momentos em que dançava para mim, as improvisações, os momentos em que ainda danço, é quando realmente sinto a música penetrar as células e movimentar o que há de mais essencial em mim e me transformar de homo sapiens - ereto e bípede - em instrumento de arte.
sexta-feira, 6 de março de 2009
A escrita e a coisificação do conhecimento
Às vezes me pergunto se penso de forma muito complexa sobre as ‘coisas’. Muitos dirão “simmm”, sem hesitar. Eu acho que sim, mas ‘vejam bem’ esta reflexão. Rs
Quando os grupos sociais compartilhavam as memórias de seus membros mais anciãos, o valor estava centrado na pessoa que contava, que era detentora daquelas informações e conhecimentos tão preciosos, porque não havia outro meio de acessá-las.
Com a escrita, o conhecimento que antes era privilégio de poucos – os sábios – a quem se dirigiam os mais novos – tornou-se um documento, de acesso permanente e passível de reprodução, poderíamos dizer ‘mais fiel’, a tal ponto que a credibilidade da fala foi relegada a segundo plano, tanto como ‘verdade’ como palavra de honra, de confiança. Assim, também foi relegada a segundo plano a credibilidade de quem ‘fala’.
O documento escrito – o suporte da escrita – tornou-se mais significativo e valorizado nas sociedades, distanciando o conhecimento da pessoa.
Hoje, com a avalanche de novos meios e tecnologias para acessar e produzir/transmitir informações, as pessoas se distanciaram ainda mais, as relações também se coisificaram a ponto tal que o meio dá credibilidade à informação, mas não necessariamente a pessoa que foi fonte ou a transmitiu.
Sempre lembro de uma historinha que um professor da faculdade contava, não me lembro bem o nome do garoto, mas ele era um ‘foca’ – nome que se dá ao jornalista novato que chega à redação dos jornais – e recebeu a tarefa de saber como se escrevia o nome de um país – se eu não me engano - do Oriente Médio. A dúvida, colocada pelo editor, era se a palavra seria escrita com ‘s’ ou ‘z’ ou algo do gênero. É importante dizer o grau de ansiedade e desespero de um foca que recebe tal incumbência do seu Editor.
Bem, angustiado por não encontrar nenhuma fonte de referência onde pudesse encontrar como o nome do país era escrito, o foca resolve ligar para a mãe. Afinal, mãe sempre sabe ‘tudo’ rs. O garoto conversa com a mãe e, ela, ainda que em dúvida, o convence de que a palavra de escrevia com a letra ‘s’ (adianto que não me lembro a palavra e nem a letra, mas é para ilustrar).
Então, o garoto, crente na sabedoria de sua mãe passa a informação ao Editor.
No dia seguinte, quando o garoto volta à redação, recebe um telefone de sua mãe, que diz: “Oi filho, o país de que perguntou ontem se escreve com a letra ‘s’ mesmo”. O garoto alegre, diz: “É mesmo mãe, que bom!”. Então, ela finaliza: “Saiu no jornal, hoje”.
Isso é para ilustrar que, na sociedade em que vivemos, o que foi escrito e publicado é ‘verdade’, independente de que fonte tenha sido consultada.
Quando os grupos sociais compartilhavam as memórias de seus membros mais anciãos, o valor estava centrado na pessoa que contava, que era detentora daquelas informações e conhecimentos tão preciosos, porque não havia outro meio de acessá-las.
Com a escrita, o conhecimento que antes era privilégio de poucos – os sábios – a quem se dirigiam os mais novos – tornou-se um documento, de acesso permanente e passível de reprodução, poderíamos dizer ‘mais fiel’, a tal ponto que a credibilidade da fala foi relegada a segundo plano, tanto como ‘verdade’ como palavra de honra, de confiança. Assim, também foi relegada a segundo plano a credibilidade de quem ‘fala’.
O documento escrito – o suporte da escrita – tornou-se mais significativo e valorizado nas sociedades, distanciando o conhecimento da pessoa.
Hoje, com a avalanche de novos meios e tecnologias para acessar e produzir/transmitir informações, as pessoas se distanciaram ainda mais, as relações também se coisificaram a ponto tal que o meio dá credibilidade à informação, mas não necessariamente a pessoa que foi fonte ou a transmitiu.
Sempre lembro de uma historinha que um professor da faculdade contava, não me lembro bem o nome do garoto, mas ele era um ‘foca’ – nome que se dá ao jornalista novato que chega à redação dos jornais – e recebeu a tarefa de saber como se escrevia o nome de um país – se eu não me engano - do Oriente Médio. A dúvida, colocada pelo editor, era se a palavra seria escrita com ‘s’ ou ‘z’ ou algo do gênero. É importante dizer o grau de ansiedade e desespero de um foca que recebe tal incumbência do seu Editor.
Bem, angustiado por não encontrar nenhuma fonte de referência onde pudesse encontrar como o nome do país era escrito, o foca resolve ligar para a mãe. Afinal, mãe sempre sabe ‘tudo’ rs. O garoto conversa com a mãe e, ela, ainda que em dúvida, o convence de que a palavra de escrevia com a letra ‘s’ (adianto que não me lembro a palavra e nem a letra, mas é para ilustrar).
Então, o garoto, crente na sabedoria de sua mãe passa a informação ao Editor.
No dia seguinte, quando o garoto volta à redação, recebe um telefone de sua mãe, que diz: “Oi filho, o país de que perguntou ontem se escreve com a letra ‘s’ mesmo”. O garoto alegre, diz: “É mesmo mãe, que bom!”. Então, ela finaliza: “Saiu no jornal, hoje”.
Isso é para ilustrar que, na sociedade em que vivemos, o que foi escrito e publicado é ‘verdade’, independente de que fonte tenha sido consultada.
As verdades e o fim dos tempos
“O homem tende à verdade. Por isso, a falência da verdade é a principal causa da decadência de qualquer sociedade”. (Este trecho foi retirado do texto O jornalista e o educador – de Carlos Alberto Di Franco – Diretor do Master em Jornalismo, professor de ética e doutor em Comunicação pela Universidade de Navarra, é diretor da Di Franco – Consultoria em Estratégia de Mídia)
Antes da explosão dos meios de comunicação que, vamos considerar aqui, foi iniciada com a disseminação do rádio e da TV – principalmente nos pós segunda guerra – cada cultura, cada grupo social, estava mais envolvido em sua própria rotina, com seus próprios fatos ou acontecimentos – ordinários ou extraordinários – do que com os dos demais povos existentes na face da Terra (pensemos de uma forma geral e não em particularidades de indivíduos que se dedicavam a conhecer outras culturas).
O caminho da informação, naquela época, era claramente institucionalizado e limitado, sendo traçado por organizações e pessoas com autoridade legítima e responsabilidade pela transmissão de ‘a verdade sobre as coisas’.
Atualmente, quero dizer de alguns anos para cá, as verdades de inúmeros povos e culturas se contradizem nos jornais, nas revistas, na TV, na internet etc., e não há razão que dê soberania a uma cultura e não à outra fora de seus territórios de origem. Nem as organizações internacionais, que mediam o relacionamento entre os povos têm sido capazes de manter uma linearidade do pensamento humano que garanta existir uma única verdade para a política, para a religião, para a economia etc. em todo o mundo. Até a história, que antes se constituía como uma grande narrativa universal e cronológica, hoje ganha diversas novas perspectivas e interpretações.
A evolução das tecnologias de produção, reprodução e transmissão de dados e informações e a ampliação do acesso a elas por um número cada vez maior de pessoas em todo o mundo, impede que esta linearidade de pensamento persista.
Este processo do ‘fim da verdade’ é muito importante para uma reflexão sobre como os discursos são poderosos para exaltar uma visão da realidade e suprimir outra; de como é possível um homem destruir o outro ou outra cultura, com argumentos nestas memórias discursivas, nesta história linear que se construiu.
Ao mesmo tempo, o fim da verdade faz emergir a complexidade e o caos que é a convivência humana. Pode ser definido como o que se chamou de 'Torre de Babel' (na Bíblia) ou, em outras palavras, é a anarquia dos sentidos, das crenças, dos valores, dos princípios, dos hábitos, dos interesses. E, neste cenário, a maioria das pessoas entra num estado de confusão mental extrema, muitas vezes sem volta.
Esta é a crise dos sentidos, porque o que tinha um significado em determinada cultura passou a ter inúmeros outros em culturas diversas e perdeu o sentido dado a sua existência, tornou-se um vazio que pode ser preenchido com qualquer coisa. Esta crise é ainda maior do que a financeira e, talvez, a causadora desta última, porque silenciosa, transforma a doença mental em epidemia, passível de compor o fim dos tempos ou a cegueira sobre a qual escreveu Saramago.
Antes da explosão dos meios de comunicação que, vamos considerar aqui, foi iniciada com a disseminação do rádio e da TV – principalmente nos pós segunda guerra – cada cultura, cada grupo social, estava mais envolvido em sua própria rotina, com seus próprios fatos ou acontecimentos – ordinários ou extraordinários – do que com os dos demais povos existentes na face da Terra (pensemos de uma forma geral e não em particularidades de indivíduos que se dedicavam a conhecer outras culturas).
O caminho da informação, naquela época, era claramente institucionalizado e limitado, sendo traçado por organizações e pessoas com autoridade legítima e responsabilidade pela transmissão de ‘a verdade sobre as coisas’.
Atualmente, quero dizer de alguns anos para cá, as verdades de inúmeros povos e culturas se contradizem nos jornais, nas revistas, na TV, na internet etc., e não há razão que dê soberania a uma cultura e não à outra fora de seus territórios de origem. Nem as organizações internacionais, que mediam o relacionamento entre os povos têm sido capazes de manter uma linearidade do pensamento humano que garanta existir uma única verdade para a política, para a religião, para a economia etc. em todo o mundo. Até a história, que antes se constituía como uma grande narrativa universal e cronológica, hoje ganha diversas novas perspectivas e interpretações.
A evolução das tecnologias de produção, reprodução e transmissão de dados e informações e a ampliação do acesso a elas por um número cada vez maior de pessoas em todo o mundo, impede que esta linearidade de pensamento persista.
Este processo do ‘fim da verdade’ é muito importante para uma reflexão sobre como os discursos são poderosos para exaltar uma visão da realidade e suprimir outra; de como é possível um homem destruir o outro ou outra cultura, com argumentos nestas memórias discursivas, nesta história linear que se construiu.
Ao mesmo tempo, o fim da verdade faz emergir a complexidade e o caos que é a convivência humana. Pode ser definido como o que se chamou de 'Torre de Babel' (na Bíblia) ou, em outras palavras, é a anarquia dos sentidos, das crenças, dos valores, dos princípios, dos hábitos, dos interesses. E, neste cenário, a maioria das pessoas entra num estado de confusão mental extrema, muitas vezes sem volta.
Esta é a crise dos sentidos, porque o que tinha um significado em determinada cultura passou a ter inúmeros outros em culturas diversas e perdeu o sentido dado a sua existência, tornou-se um vazio que pode ser preenchido com qualquer coisa. Esta crise é ainda maior do que a financeira e, talvez, a causadora desta última, porque silenciosa, transforma a doença mental em epidemia, passível de compor o fim dos tempos ou a cegueira sobre a qual escreveu Saramago.
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