sexta-feira, 6 de março de 2009

A escrita e a coisificação do conhecimento

Às vezes me pergunto se penso de forma muito complexa sobre as ‘coisas’. Muitos dirão “simmm”, sem hesitar. Eu acho que sim, mas ‘vejam bem’ esta reflexão. Rs

Quando os grupos sociais compartilhavam as memórias de seus membros mais anciãos, o valor estava centrado na pessoa que contava, que era detentora daquelas informações e conhecimentos tão preciosos, porque não havia outro meio de acessá-las.

Com a escrita, o conhecimento que antes era privilégio de poucos – os sábios – a quem se dirigiam os mais novos – tornou-se um documento, de acesso permanente e passível de reprodução, poderíamos dizer ‘mais fiel’, a tal ponto que a credibilidade da fala foi relegada a segundo plano, tanto como ‘verdade’ como palavra de honra, de confiança. Assim, também foi relegada a segundo plano a credibilidade de quem ‘fala’.

O documento escrito – o suporte da escrita – tornou-se mais significativo e valorizado nas sociedades, distanciando o conhecimento da pessoa.

Hoje, com a avalanche de novos meios e tecnologias para acessar e produzir/transmitir informações, as pessoas se distanciaram ainda mais, as relações também se coisificaram a ponto tal que o meio dá credibilidade à informação, mas não necessariamente a pessoa que foi fonte ou a transmitiu.

Sempre lembro de uma historinha que um professor da faculdade contava, não me lembro bem o nome do garoto, mas ele era um ‘foca’ – nome que se dá ao jornalista novato que chega à redação dos jornais – e recebeu a tarefa de saber como se escrevia o nome de um país – se eu não me engano - do Oriente Médio. A dúvida, colocada pelo editor, era se a palavra seria escrita com ‘s’ ou ‘z’ ou algo do gênero. É importante dizer o grau de ansiedade e desespero de um foca que recebe tal incumbência do seu Editor.

Bem, angustiado por não encontrar nenhuma fonte de referência onde pudesse encontrar como o nome do país era escrito, o foca resolve ligar para a mãe. Afinal, mãe sempre sabe ‘tudo’ rs. O garoto conversa com a mãe e, ela, ainda que em dúvida, o convence de que a palavra de escrevia com a letra ‘s’ (adianto que não me lembro a palavra e nem a letra, mas é para ilustrar).

Então, o garoto, crente na sabedoria de sua mãe passa a informação ao Editor.

No dia seguinte, quando o garoto volta à redação, recebe um telefone de sua mãe, que diz: “Oi filho, o país de que perguntou ontem se escreve com a letra ‘s’ mesmo”. O garoto alegre, diz: “É mesmo mãe, que bom!”. Então, ela finaliza: “Saiu no jornal, hoje”.

Isso é para ilustrar que, na sociedade em que vivemos, o que foi escrito e publicado é ‘verdade’, independente de que fonte tenha sido consultada.

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