sexta-feira, 20 de março de 2009

Isto é bom ou é mau?


Temos em mente que devemos sempre fazer coisas boas. Ao menos é o que se prega explicitamente na sociedade em que vivemos. Mas o que é uma coisa boa?

Em verdade, depois da relatividade de Einstein, responder a esta pergunta ficou mais difícil, complexo. Porque é possível dar-se um exemplo e por diversos pontos de vista dizer que ele é bom ou é mau, e até mesmo seria possível estabelecer graus de bondade ou maldade para cada uma das definições.

Pois bem, esta complexidade existe, penso que apenas aqueles que se submetem a uma única doutrina, acreditando pia e cegamente nela, é que são capazes de simplificar esta realidade. E isto acontece tanto na religião, quanto na política, ou mesmo na ciência – como as teorias que limitam a possibilidade de conhecimento de um profissional.

A polaridade ou, em alguns casos, o maniqueísmo – bem e mal – é algo que se origina de nosso pensamento linear. Porque no sistema de pensamento cartesiano: ‘penso, logo existo’, concluímos que: ‘quando não penso, não existo’. Isto significa que não temos mais do que DUAS alternativas. Se algo funciona, ele é bom. Se algo não funciona, ele é ruim. René Decartes não previu que um relógio que não funcione mais possa ser um objeto de museu, ou talvez apenas uma imagem na mente de alguém, em sua memória, a representação de algo mais. O mecanismo do relógio pode não funcionar, mas ele tem outra função – ele é bom porque representa algo, ou ocupa um espaço na vida de alguém significativo. Podemos pensar inúmeras alternativas.

Parece-nos que a polaridade é algo físico que emerge do mundo palpável – o imã tem dois pólos, talvez haja variações as quais não têm função para nós ou que ainda não foram identificadas, sei lá (são hipóteses, mas nos permitem romper com o óbvio). Mas eu não acredito que as coisas simplesmente surjam naturalmente, afinal estamos o tempo todo fazendo interpretações e comparações do que ‘sentimos’ no ‘mundo real’ com o que criamos no ‘mundo imaginário’. É um diálogo. Nem uma ilusão. Nem um realismo naturalístico.

Portanto, a polaridade bem e mal não reflete a realidade complexa repleta de nuances em que estamos inseridos e, inclusive, na qual acredito haja dimensões as quais não acessamos, ao menos não conscientemente.

Ainda assim, temos que compreender que a linearidade traduz o que representa a nossa capacidade mental e sensitiva hoje. Embora vivamos num mundo multimidiático, podemos ouvir uma música e escrever sobre assunto desconexo dela ao mesmo tempo, mas não podemos dizer duas palavras simultaneamente, nossa constituição física não permitiria. É claro que existem as exceções e estes casos devem ser estudados, mas tomemos como parâmetro a maioria dos seres humanos hoje.

De qualquer maneira, ainda que nossa percepção nos dê a oportunidade de ver apenas dois pólos – positivo ou negativo – no ‘mundo real’, é importante lembrar que seja qual for o ponto de vista, o bom e o ruim sempre estarão presentes ao mesmo tempo, e o que nos permite dizer que algo é bom ou é ruim é tão somente nossa percepção e nossa imaginação – portanto, as expectativas, os valores, a história, as memórias, as doutrinas, os dogmas, as crenças etc. – sobre este ‘algo’.

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