segunda-feira, 30 de março de 2009

Emprego X Trabalho

Um discurso recorrente diz: O trabalho dignifica o homem.

E é verdade. Eu acredito nisso. Mas não o trabalho como emprego, porque o emprego´é uma instituição criada pelo capitalismo em que independente de haver trabalho - ou seja transformação de energia, geração de energia - o indivíduo, vulgo consumidor, recebe um salário com o qual adquirirá produtos.

Com a crise, vemos uma discussão incrível acerca do número de demissões, de desempregados, pessoas que são, nesta condição, humilhadas pelo próprio sistema, porque perderam sua 'dignidade', não têm mais poder, poder de consumo.

E é aí que vemos a confusão trabalho, emprego, consumidor, cidadão.

Como pode ser cidadão, quero dizer argumentar política, sociológica e filosoficamente acerca de sua condição e do contexto em que está inserido, um indivíduo que foi educado basicamente para ser consumidor e, portanto, ter um emprego e um salário com este propósito?

Como pode ser capaz de ter uma postura ativa diante de sua própria vida, alguém de aprendeu que obedecer é o mais importante para manter este tão glorioso emprego, que 'coloca o pão em sua mesa'?

Delegou-se a tantos outros o poder de fazer as coisas, que o indivíduo ficou sem função, a não ser obedecer ordens. Falo de um grande número de pessoas, não todas, é claro.

Se estes indivíduos fossem cidadãos, estariam prontos a questionar aquilo que lhes é mais próximo, seriam capazes de estar desempregados sem se sentir humilhados; poderiam criar meios de trabalhar, de produzir, de trocar bens, sem que fosse necessário depender deste sistema emprego, salário, consumo, e sem apelar para os meios degradantes, como o tráfico, jogos, pirataria entre outros atos que são causadores da destruição de tantas vidas.

Muitos perderam a dignidade, porque não trabalham mais, apenas obedecem ordens para manter seus empregos, até que uma crise local ou global os façam perdê-los.

E, então, surgem discussões como a de que é preciso fazer algo para manter o emprego das pessoas. A questão é: para que manter o emprego das pessoas? Neste sistema social, a regra é que o sucesso de um será sempre o fracasso de outro, então, se não perde a empresa, perde o funcionário ou ex-funcionário....e muitos mais. O que muitos não querem ver é que está tudo interligado, que a geração de empregos - embora no topo da lista das atividades sociais, como a de maior nível e valor - não é suficiente se for ação isolada. Mas, enquanto o valor da nossa sociedade estiver naquilo que gera dinheiro e nada mais, então ninguém vai trabalhar sem que seja num emprego.

Com todo este 'blá blá blá' não quero dizer que a mim parece ou é fácil, mas que o que se deve enfrentar é maior do que a crise financeira ou o desemprego, é a crise existencial do ser humano e do sistema que ele criou e ao qual delegou o poder de reger sua vida, como se acionasse um piloto-automático.

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